Military Review Edição Brasileira Quarto Trimestre 2016 | Page 10

do Iraque . Após a Primeira Guerra Mundial , o Japão adotou a ideia de guerra total , exigindo a mobilização de todos em uma nação combatente , talvez de modo mais completo que qualquer outro país7 . O resultante aparato humano de burocratas e tecnocratas capazes de administrar , com eficiência , o Estado permaneceu intacto após a Segunda Guerra Mundial — com exceção das Forças Armadas e dos Ministérios da Guerra e Naval —, estando , portanto , imediatamente disponível para supervisionar e administrar a reconstrução durante a ocupação norte-americana , se lhe permitissem . Em consequência , ao iniciar a ocupação , o governo norte-americano decidiu minimizar o número de militares necessário ao governar por meio da competente estrutura de liderança existente , com um nível mínimo de investigação para remover militaristas obstinados . Em comparação , a liderança nacional e local da classe administrativa do Iraque havia se enfraquecido durante o governo de Hussein . Por isso , diferentemente do que estava disponível durante a ocupação do Japão , representava apenas a estrutura mais básica de uma efetiva classe administrativa de burocratas iraquianos , que , de outra forma , poderiam ter ajudado a administrar a reconstrução e reabilitação do Iraque sob a ocupação norte-americana . Além disso , em comparação com as políticas empregadas no Japão , em vez de investigar e conservar o que havia restado da antiga burocracia iraquiana sob Hussein , os EUA introduziram um programa extremamente rigoroso , destinado a remover todos os integrantes do partido Baath do governo , o que , na prática , significava quase todos os líderes em todos os níveis . O subsequente programa de “ desbaathização ” eliminou o que restava da capacidade administrativa do antigo governo iraquiano , efetiva ou não , o que resultou na remoção , de cargos de autoridade , dos únicos verdadeiros especialistas institucionais disponíveis sobre modalidades consagradas de governança iraquiana . Essa decisão resultou no caos social e político , seguido da penosa necessidade de tentar selecionar e criar uma liderança nova e politicamente aceitável em praticamente todos os níveis . Em comparação com a transição relativamente eficiente para a administração e governança nacional na ocupação do Japão , o processo utilizado no Iraque efetivamente obstruiu os esforços para normalizar e gerir , eficientemente , a reconstrução e a governança por todo o Iraque durante a maior parte da década seguinte , durante e após a ocupação .
Governo da Ocupação Comandado por Militares versus Civis . Além disso , o método de liderança empregado pelos EUA foi radicalmente diferente da situação que vigorava na ocupação do Japão , quando comparada à do Iraque . A ocupação do Japão foi supervisionada e administrada por meio de um governo militar norte-americano . Assim , a liderança norte-americana era predominantemente militar , o que conferia níveis bem definidos de responsabilidade e uma clara cadeia de comando até o General Douglas MacArthur , Comandante Supremo das Forças Aliadas ( SCAP , na sigla em inglês , a qual passou a denotar tanto MacArthur quanto a burocracia geral da ocupação ). Sob o governo militar da ocupação , semelhantemente ao tempo de guerra , os militares foram designados para unidades organizadas ; permaneceram por períodos relativamente longos sob disciplina e direção militar ; e receberam tarefas e missões especificamente atribuídas , conforme determinadas pela cadeia de autoridade , sendo obrigados a informar sobre seu andamento . Um dos resultados era a responsabilização e a execução completa de tarefas em todos os níveis .
Em comparação , embora estivesse sob o Departamento de Defesa e fosse apoiada pela Força-Tarefa Conjunta e Combinada 7 , a CPA do Iraque foi pouco mais que um exercício ad hoc durante o ano de sua existência .
Minha organização , o OPPA , trabalhava diretamente para o diretor da CPA , o Embaixador L . Paul Bremer . Era um homem decidido , mas só podia lidar com parte do que chegava em sua “ caixa de entrada ” diariamente , à medida que tentava funcionar em uma organização em constante mudança , sem uma cadeia de comando definida e com limitada subordinação direta a ele dentro de cada organização . Embora houvesse alguns líderes capazes diretamente sob sua supervisão , abaixo deles havia uma estrutura organizacional caótica e disfuncional , que fornecia pouca continuidade ou real influência em termos de um verdadeiro poder para fazer as coisas acontecerem . Além disso , os integrantes da equipe , que , em sua maioria , haviam sido selecionados por indicação política , entravam e saíam da CPA com uma velocidade vertiginosa . Alguns permaneceram ali por meses ; outros por apenas algumas semanas ou até dias . Um número muito pequeno ficou durante toda a breve existência da CPA , tendo um número ainda menor permanecido
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