Military Review Edição Brasileira Março-Abril 2014 | Page 84

soberania e os atores não estatais. Além disso, a forma pela qual os autores configuram a tensão entre uma organização dessas e o Estado apoia aqueles que, como Clarke, veem o hacktivismo como uma “forma relativamente branda de protesto virtual” (p. 55). Aos que creem que haverá uma guerra cibernética entre Estados-nação, esse livro proporcionará uma perspectiva mais ampla sobre aspectos que desconhecem na discussão geral sobre o tema. Há muito a criticar quando se trata de sua definição de organizações piratas, e a forma irrefletida pela qual descartam a pirataria marítima ao longo do Chifre da África é lamentável. Uma compreensão mais profunda mostraria que a atividade é bem mais complexa, o que, na verdade, apoiaria sua tese. A pirataria marítima contemporânea tira proveito de redes regionais e mundiais de finanças, seguro e transporte, que ocorrem bem longe dos ataques a embarcações em alto-mar. A rede é dispersa, relativamente duradoura e resistente à detecção e à eliminação. Os cinco livros ilustram a crescente complexidade de conceituar ações virtuais nocivas. Os formuladores de políticas, profissionais de segurança nacional e acadêmicos muitas vezes descartam os hacktivistas ou piratas cibernéticos como sendo grupos de indivíduos desajeitados e insatisfeitos, que geram tumulto on-line para atender a um anseio de pertencer a uma comunidade. Concentram-se, em vez disso, na guerra cibernética conduzida ou apoiada por Estados-nação. É fácil recolocar mudanças complicadas no ambiente de segurança na “caixa” de Estado-nação, mas essa seria uma medida imediatista. É justamente o que fizemos não faz muito tempo, com resultados desastrosos. Entre a queda do Muro de Berlim e a destruição do World Trade Center, atores não estatais foram ignorados em prol de desafios relacionados a Estados. Mesmo hoje, após mais de uma década da Guerra contra o Terrorismo e das guerras no Iraque e no Afeganistão, nosso entendimento de assuntos como terrorismo, insurgência e guerra assimétrica não é totalmente sólido. 82 Além disso, considerando o caráter recente e extremamente mutável do domínio cibernético, seria um equívoco desconsiderar qualquer grupo que tenha, como etos, o desejo de definir o ciberespaço por meio de ações virtuais que desafiam os elementos básicos da segurança nacional. Esse é, em especial, o caso quando alguns desses grupos se sentem sitiados por governos e empregam, rotineiramente, a retórica da guerra: “[n]esse campo aparentemente platônico de ideias e fluxo de informações, pode haver uma noção de força coercitiva? Uma força que possa alterar fontes históricas, grampear telefones, separar pessoas, transformar a complexidade em escombros e erigir muros, como um exército de ocupação?” (p. 3) Os formuladores de políticas, profissionais de segurança nacional e acadêmicos descartaram, anteriormente, grupos que acreditam agir em defesa própria e, então, atacam de modo súbito e imprevisto, para nossa surpresa e prejuízo. O que consta, em diversos graus, da literatura sobre o ciberespaço e a guerra cibernética são os cinco diferentes debates em curso sobre esse novo domínio e sobre como atuar nele. Os debates incluem: quem estabelece os limites do ciberespaço; como as informações virtuais devem ser controladas; para quem devem ser disponibilizadas; se hierarquias e redes de indivíduos podem coex \