Military Review Edição Brasileira Julho-Setembro 2016 | Page 62

Brasil conclui o rodízio do 7o contingente na UNEF I ( 1961 ).
Foto ONU / sem autor também há evidências de preocupação com interesses gerais , como a participação em missões que produzissem bens públicos globais .
Segundo , verificou-se que é fundamental realizar uma nova reflexão sobre as posições oficiais acerca do uso da força em missões da ONU regidas pelo Capítulo VII ( total ou parcialmente ), sobretudo as que contam com o apoio de brasileiros , em função de uma práxis militar existente há 25 anos . Nos próximos anos , deve-se esperar por um aumento – ou no mínimo a permanência – do número de missões autorizadas sob o Capítulo VII . Assim , é fundamental que o Brasil reflita sobre a sua própria participação em missões sob esse Capítulo , e também sobre a eventual necessidade de realinhamento entre discurso e prática , a fim de fortalecer a sua própria posição nos foros de paz e segurança internacional . É importante definir , por exemplo , se a MINUSTAH corresponde a um precedente ou uma exceção .
Ao longo do artigo , receberam destaque três padrões de comportamento que perpassam diferentes governos e que , por isso , representam indícios de políticas de Estado . Devem , portanto , ser considerados em futuros processos de tomada de decisão :
A participação com tropas ( missões coletivas ) só ocorreu em três eixos prioritários : Haiti , Líbano e países lusófonos ( com destaque a Angola e Timor Leste e , em menor escala , Moçambique ). As demais contribuições do Brasil a missões de paz , salvo raras exceções , ocorreram e ainda ocorrem por meio de desdobramento de indivíduos ;
A busca pela diversificação nas missões apoiadas por brasileiros é relevante e tem início nos anos 2000 . Em dezembro de 2015 , o país tinha representantes em 9 das 16 missões de paz coordenadas pelo DPKO , o que corresponde a 56,3 %; e
Há pelo menos 25 anos o Brasil envia nacionais ( militares e policiais ) para missões da ONU regidas pelo Capítulo VII . Houve / há representação brasileira em 74 % das missões dessa natureza .
A análise da trajetória brasileira indica que não é possível voltar aos padrões anteriores aos da década de 1990 sem altos custos políticos . Os dados evidenciam que , nos últimos 25 anos , e principalmente a partir dos anos 2000 , o Brasil alcançou um perfil internacional tão elevado que não pode diminuí-lo drasticamente sem que isso afete a própria dinâmica atual da paz e segurança . Além disso , ficariam frustradas as expectativas individuais e globais sobre as contribuições do Brasil , construídas em larga medida a partir do sucesso de sua participação em missões de paz ao longo da última década . Como consequência , isso também afetaria a reputação brasileira , bem como a própria projeção de soft power por parte do Brasil .
O artigo , como um todo , apresenta a trajetória brasileira com altos e baixos , imperfeições e incoerências , com a certeza de que as análises quantitativas e qualitativas sobre passado e presente contribuem para a qualificação do debate e para a tomada de decisão no futuro .
60 Julho-Setembro 2016
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