Military Review Edição Brasileira Julho-Setembro 2016 | Page 53

OPERAÇÕES DA ONU (1) Dados que evidenciam a busca, pelo Brasil, de participar regularmente das missões da ONU, engajando-se tanto em missões de interesses específicos como em missões de interesses gerais/globais; e (2) Dados que giram em torno do debate sobre o engajamento da ONU, e do Brasil, em missões regidas sob o Capítulo VII da Carta8. Além desses aspectos, outros elementos também ficaram evidentes na análise da trajetória do Brasil nos últimos 70 anos, mas não farão parte desse artigo por falta de espaço e porque requerem mais tempo de pesquisa. Exemplos incluem o tímido engajamento com mulheres a partir de 2003, com maior ênfase em 2012 e 2015; bem como os esforços logísticos, doutrinários e de adestramento em retomar o engajamento de tropas depois de um distanciamento de quase vinte anos entre a UNAVEM III (1995-1997) e a MINUSTAH (2004-presente)9. Também pode ser útil discutir de que maneira as crises financeiras das décadas de 1990 e de 2010 não chegaram a afetar o engajamento do Brasil com tropas no exterior. São ideias para futuras pesquisas, que muito contribuirão para o avanço do debate. Na próxima seção, o artigo fará uma análise quantitativa, com pinceladas qualitativas, nos aspectos que se traduzem como um esforço do Brasil em garantir a realização de seus interesses específicos e em promover ativamente iniciativas de interesse gerais, contribuindo para a geração de bens públicos globais. No fim do artigo, serão discutidas as participações do Brasil em missões sob o Capítulo VII e suas implicações para a política externa brasileira. A Garantia de Interesses Específicos e a Promoção de Interesses Gerais Há fortes evidências de que o Brasil tenha contribuído, regularmente, com um baixo número de militares e policiais para um alto número de missões que não estão no centro da política externa brasileira, sobretudo a partir dos anos 2000. Isso indicaria que o Brasil estaria motivado pela vontade de contribuir com o multilateralismo e com a produção de bens públicos globais. Ao mesmo tempo, os dados também indicam que as missões da ONU em regiões ou territórios prioritários para a política externa contaram com o desdobramento de números significativos de tropas10. Assim, ficam evidentes pelo menos duas motivações do Brasil para participar das missões da ONU (“interesses gerais/globais” e “interesses específicos”), o que será explorado na presente seção. Entre 1947 e 2015, 71 missões de manutenção da paz foram autorizadas pelo CSNU11. Os últimos 25 anos foram mais intensos do que os 42 anos anteriores, em função da polarização do sistema internacional durante a Guerra Fria, representada no CSNU. No início da década de 1990, porém, o número de novas missões aprovadas aumentou de maneira exponencial. Somente de 1988 a 1994, por exemplo, o Conselho aprovou 20 novas missões12. O Brasil participou, com militares ou policiais, de 43 operações de manutenção da paz, o que equivale a 61% do total13. Foi a partir de 1990, e principalmente no século atual, que a participação brasileira se fez mais ativa, com desdobramentos em 25 novas missões. O gráfico 1 inclui todas as missões de manutenção da paz da ONU que contaram com a participação do Brasil, entre 1947 e 2015. Tal gráfico evidencia que o país se engajou com um grande númeFoto ONU/Pasqual Gorriz Brasil assume o comando da Força-Tarefa Marítima da UNIFIL (Líbano 2011). ro de missões, simultaneamente, MILITARY REVIEW  Julho-Setembro 2016 51