Military Review Edição Brasileira Julho-Setembro 2016 | Page 52

• Das 71 missões de manutenção da paz autorizadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas ( CSNU ), 43 contaram com brasileiros no terreno , o que equivale a 61 %. Além dessas , houve participação brasileira em 3 missões políticas especiais e em 1 força multinacional autorizada pelo Conselho de Segurança ;

• O número de missões com participação de militares e policiais brasileiros aumentou consideravelmente nos últimos 15 anos : em 2000 , o Brasil participava de três missões e , hoje , o país participa de 9 missões , o que corresponde a um crescimento de 300 %;

• Desde a primeira missão , mais de 48 mil militares e policiais brasileiros estiveram no terreno sob a bandeira azul da ONU . Desses , 87 % foram desdobrados nos últimos 25 anos ;

• Ao todo , houve apenas três momentos que se destacam devido aos números significativos de tropas brasileiras no terreno : anos 1950 / 1960 ( Suez / UNEF I ); anos 1990 ( Angola / UNAVEM III , conjugada em menor escala com missões em Timor Leste e Moçambique ); e anos 2000 / 2010 ( Haiti / MINUSTAH , conjugada com Líbano / UNIFIL );

• A participação do Brasil nas missões da ONU parece ser motivada por interesses específicos e por interesses gerais : as missões prioritárias para a política externa brasileira ( interesse específico ) atraem grandes números de tropas brasileiras , enquanto que as missões menos prioritárias ( de interesse geral ou global ) atraem um baixo , porém constante , número de profissionais no terreno , e apenas ajudam o Brasil a marcar presença em espaços multilaterais ;

• Apesar da excessiva cautela do discurso diplomático do Brasil quanto ao engajamento em missões autorizadas sob o Capítulo VII da Carta da ONU , os dados revelam a participação de brasileiros em 74 % dessas missões ; e

• O engajamento do Brasil nas missões da ONU parece motivado tanto por interesses específicos como por interesses gerais : as missões de interesse específico atraem grandes números de tropas brasileiras , enquanto que as de interesse geral evidenciam a busca do Brasil por marcar sua presença em espaços multilaterais , ainda que com baixo número de profissionais no terreno .

É evidente que questões financeiras , políticas ou ideológicas , relacionadas a governos específicos , têm impacto na quantidade de missões que recebem o apoio do Brasil , e / ou no número total de militares e policiais que o país efetivamente desdobra . Mas o que os dados revelam é que há padrões que se mantêm relativamente estáveis , a despeito das diferenças político-partidárias no governo federal . Como consequência , os elementos centrais de tais padrões poderão orientar a política externa brasileira no futuro próximo , assim como poderão ser úteis aos debates sobre o futuro das operações de paz .
Metodologia
A metodologia adotada envolve uma combinação de análises quantitativas e qualitativas . Junto com aspectos temporais e espaciais , tais abordagens deixam evidente a trajetória do Brasil nas operações das Nações Unidas .
Apesar dos esforços , houve problemas metodológicos acerca da contagem de cada um dos componentes das missões ( militares , policiais e civis ). Os dados do DPKO , a principal fonte internacional sobre o tema , só evidenciam quantos profissionais estavam no terreno a cada mês . Assim , para obter o total de brasileiros em cada missão , recorreu-se a planilhas consolidadas pelo Ministério da Defesa e pelo Estado-Maior do Exército Brasileiro ( EME / EB ), para a contagem dos militares das três forças , e dados obtidos com a Inspetoria-Geral das Polícias Militares do Comando de Operações Terrestres ( IGPM / COTER ), também do Exército , para a contagem dos policiais militares . As planilhas com os dados dos militares não identificam os “ veteranos ”, de maneira que alguns profissionais foram contabilizados mais de uma vez7 . Assim , optou-se por conferir semelhante tratamento à contagem dos PMs , a fim de que ficasse equiparada à dos militares .
Quase não há registro de especialistas civis brasileiros em missões da ONU e o único livro que menciona , de autoria de um diplomata brasileiro , foi publicado em 1999 e está desatualizado . Por essa razão , apenas o “ pessoal uniformizado ” ( ou seja , todos os militares e policiais ) foi contabilizado nessa pesquisa .
Em termos de números desagregados , esses só foram disponibilizados a partir de novembro de 1990 pelo site do Departamento de Operações de Manutenção da Paz da ONU ( DPKO ). Há mais de 4 mil dados com identificação da participação de brasileiros , integrados a 505 documentos . Houve tão poucas interrupções que não chegam a afetar a visão geral .
Os dados selecionados para análise foram enquadrados em duas categorias , que serão detalhadas nas duas próximas seções e são resumidas a seguir :
50 Julho-Setembro 2016
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