Military Review Edição Brasileira Julho-Setembro 2016 | Page 50

si mesmo, mas também para as discussões sobre o futuro das operações das Nações Unidas. Em tempos de crise, como os atuais, a identificação de padrões de comportamento torna-se ainda mais relevante, na medida em que aspectos recorrentes poderão orientar a tomada de decisão depois de dissipada a névoa da incerteza. Para tanto, foram analisadas todas as contribuições do Brasil para as missões da ONU, incluindo missões de manutenção da paz, missões políticas especiais e forças multinacionais. Os principais resultados, trazidos à tona neste artigo, incluem: Ao todo, entre 1947 e 2015, o Brasil enviou militares e policiais para 47 missões da ONU; Das 71 missões de manutenção da paz autorizadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), 43 contaram com brasileiros no terreno, o que equivale a 61%. Além dessas, houve participação brasileira em 3 missões políticas especiais e em 1 força multinacional autorizada pelo Conselho de Segurança; O número de missões com participação de brasileiros aumentou consideravelmente nos últimos 15 anos: em 2000, o Brasil participava de três missões e, hoje, o país participa de 9 missões, o que corresponde a um crescimento de 300%; Ao todo, mais de 48 mil militares e policiais brasileiros estiveram no terreno sob a bandeira azul da ONU. Desses, 87% foram desdobrados nos últimos 25 anos; Houve apenas três momentos que se destacam pelos números significativos de tropas brasileiras no terreno: anos 1950/1960 (Suez/UNEF I), anos 1990 (Angola/UNAVEM III) e anos 2000/2010 (Haiti/ MINUSTAH, conjugada com Líbano/UNIFIL); A participação do Brasil nas missões da ONU parece ser motivada por interesses específicos e por interesses gerais: as missões prioritárias para a política externa brasileira (interesse específico) atraem grandes números de tropas brasileiras, enquanto que as missões menos prioritárias (de interesse geral ou global) atraem um baixo, porém constante, número de profissionais no terreno, e apenas ajudam o Brasil a marcar presença em espaços multilaterais; e Apesar da excessiva cautela do discurso diplomático do Brasil quanto ao engajamento em missões autorizadas sob o Capítulo VII da Carta da ONU, os • • • • • • • 48 dados revelam a participação de brasileiros em 74% dessas missões. Essas são evidências de que o perfil do país para questões de paz e segurança alcançou tamanha envergadura que já não é possível voltar atrás sem grandes prejuízos para a organização do sistema internacional. E sem grandes prejuízos para a própria posição relativa do país na ordem global. É importante ter consciência da grandeza do papel brasileiro a fim de que o governo mantenha elevado esse perfil nos anos vindouros. Apresentação Em função do tipo de dados hoje existentes, há pelo menos duas formas de analisar o envolvimento do Brasil nas missões da ONU. A primeira é mais ampla e considera a série histórica em sua íntegra, compreendendo toda a contribuição brasileira com pessoal uniformizado, de 1947 a 2015. A segunda é mais específica e confere destaque apenas aos últimos 25 anos. Além de ser o período mais recente, é também quando o engajamento do Brasil e da própria ONU fica mais dinâmico. Ambas as formas são adotadas neste trabalho, não apenas por serem complementares, mas também por revelarem dados importantes sobre os padrões de comportamento passados e presentes, que podem refletir no futuro. Os dados da série histórica revelam que, entre 1947 a 2015, o Brasil enviou militares e/ou policiais para 47 missões da ONU, em cerca de 30 países e territórios2. Dessas, 43 são de manutenção da paz (sob a coordenação do Departamento de Operações de Manutenção da Paz - DPKO), 3 são missões políticas especiais (sob a coordenação do Departamento de Assuntos Políticos - DPA), e 1 é força multinacional autorizada pelo Conselho de Segurança. Ao todo, o Brasil autorizou e financiou o desdobramento de 48.689 profissionais uniformizados brasileiros (militares e policiais) para trabalhar sob a bandeira azul das Nações Unidas3. O início da participação do Brasil se confunde com as próprias origens das missões de paz da ONU, no fim dos anos 1940. Foi baixo o engajamento do país durante o regime militar (1964-1985), com a manutenção de um punhado de oficiais na função de observadores, com a notável exceção do desdobramento de três contingentes em uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) na República Dominicana4. Esse período de baixa participação coincide com o auge da Guerra Fria, quando o congelamento do Conselho de Julho-Setembro 2016  MILITARY REVIEW