Military Review Edição Brasileira Julho-Setembro 2016 | Page 17
GUERRA DE NOVA GERAÇÃO
sair em retirada e nos receberam com carros de
combate e lança-foguetes móveis”39. O governo
ucraniano anunciou que 179 soldados ucranianos
foram mortos, 110 foram capturados e 81 estavam
desaparecidos40. Ambos os combates deixaram as
forças ucranianas desmoralizadas. A divisão interna
se estabeleceu entre as forças, que acusaram Kiev de
abandoná-las.
Conclusão e Recomendações
O trabalho de Berzins sobre a guerra de nova geração russa oferece um excelente modelo para compreender o que a Rússia estava fazendo em abril de 2014. O
benefício de uma análise retrospectiva é que ela permite
entender que as ações russas na Ucrânia têm um contexto histórico nos âmbitos estratégico, operacional e
tático, com pequenas adaptações. Há uma série de coisas que os EUA e a OTAN podem fazer para se oporem
à agressão russa; por que não usar o que funcionou no
passado contra a Rússia, com pequenas adaptações?
Estrategicamente, a Operação Atlantic Resolve,
operação liderada pelos EUA na Europa com o objetivo de fornecer garantias aos aliados da OTAN, é
bastante semelhante à política de contenção descrita
no relatório NSC-68, do Conselho de Segurança
Nacional, pelo governo Truman41. A grande vantagem para a OTAN são os antigos inimigos pertencentes ao Pacto de Varsóvia, hoje considerados
aliados. A figura 2 mostra a extensão da OTAN
após o colapso da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas em 1989. A parceria com esses países serve para assegurar aos aliados da OTAN que eles não
serão abandonados diante da expansão territorial
russa.
Operacionalmente, a OTAN precisa combater as
operações profundas russas que busquem deslegitimar
a soberania de membros vulneráveis da organização,
devendo tomar medidas para reforçar sua determinação coletiva. Além disso, não combater a guerra
de informação russa pode fragmentar a estrutura de
segurança transatlântica que serve para proteger a
liberdade, prosperidade e paz para milhões de pessoas.
Taticamente, a OTAN deve adotar o modelo
híbrido. A OTAN operou como uma força híbrida
no Afeganistão e, considerando os pequenos exércitos dos aliados da organização, é bastante provável
que estabeleça parcerias com milícias no caso de um
futuro conflito.
A Rússia parece ter escolhido um retrocesso, em
vez do convívio pacífico. Vem estabelecendo as
condições e definindo o ambiente operacional por
sua audácia agressiva e relativamente incontestada,
mas o modo de guerra russo e sua propensão histórica à expansão diante de uma fraca resistência tem
sido geralmente constante ao longo de toda a sua
história. Em consequência, o verdadeiro problema
diante da OTAN não é um novo tipo de guerra russo
ou uma nova política de expansão, mas a relutância
da própria organização em retomar seu propósito
original de prevenir a conquista russa.
O Major Nicholas Sinclair, do Exército dos EUA, é subcomandante do 1º/68º Batalhão Blindado, 3ª Brigada de
Combate Blindada, 4ª Divisão de Infantaria. Concluiu o bacharelado em The Citadel, Charleston, Carolina do Sul,
e o curso da Escola de Estudos Militares Avançados, no Forte Leavenworth, Estado do Kansas.
Referências
1. U.S. Army Training and Doctrine Command (TRADOC)
Pamphlet 525-3-1, The U.S. Army Operating Concept: Win in
Complex World 2020-2040 (Fort Eustis, VA: TRADOC, 31 October
2014), p. 10.
2. National Security Strategy (Washington, DC: The White
House, February 2015), 2, acesso em 11 fev. 2016, https://www.
whitehouse.gov/sites/default/files/docs/2015_national_security_
strategy.pdf.
MILITARY REVIEW Julho-Setembro 2016
3. Joint Publication 3-0, Joint Operations (Washington, DC: U.S.
Government Printing Office [GPO], 11 August 2011), gl-14, s.v.
“Ambiente operacional”. Uma combinação das condições, circunstâncias e influências que afetam o emprego de capacidades e as
decisões do comandante. Conhecido como OE, na sigla em inglês.
4. Janis Berzins, Russia’s New Generation Warfare in Ukraine:
Implications for Latvian Defense Policy (Riga, Latvia: National Defense Academy of Latvia, 2 April 2014), p. 3.
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