Military Review Edição Brasileira Julho-Setembro 2016 | Page 15

GUERRA DE NOVA GERAÇÃO adversários e elementos neutros . As operações profundas russas possibilitaram suas ambições territoriais ao arrancarem pedaços da Geórgia e da Ucrânia com a desculpa de o país estar protegendo suas populações nativas no exterior e promovendo a autodeterminação nacional . Quando a Rússia se apossou da Crimeia , o Exército ucraniano capitulou após uma campanha de informação bem planejada e executada24 .
A Rússia aperfeiçoou seu emprego da guerra de informação por meio do uso do controle reflexivo . Em Recasting The Red Star (“ Reformulando a Estrela Vermelha ” em tradução livre ), Timothy Thomas define o controle reflexivo como “ um meio de transmitir a um parceiro ou adversário informações especialmente preparadas para estimulá-lo a tomar , voluntariamente , a decisão predeterminada desejada pelo iniciador da ação ” 25 . O controle reflexivo russo pareceu ter sucesso , também , contra os parceiros da Ucrânia na OTAN . Membros da OTAN relutaram em se envolver no conflito , efetivamente isolando a Ucrânia da comunidade internacional26 .
A Rússia utiliza o controle reflexivo para colocar seus vizinhos entre a “ cruz e a espada ”. Ou os países permitem cidadãos russos dentro de suas fronteiras e acabam lidando com movimentos separatistas ou isolam suas populações russas e dão à Rússia um pretexto para a invasão . Em seu livro A Little War That Shook The World : Georgia , Russia , and the Future of the West (“ A Pequena Guerra que Abalou o Mundo : Geórgia , Rússia e o Futuro do Ocidente ”, em tradução livre ), Ronald Asmus descreve como isso ocorreu na Geórgia em 200827 . Asmus acusa a Rússia de capacitar separatistas da Ossétia do Sul a atacar cidades da Geórgia a partir de áreas controladas pelos russos . Após uma escalada contínua , a Geórgia respondeu com seu próprio ataque militar , eliminando 50 mantenedores da paz russos . A resposta russa foi severa , subjugando o Exército da Geórgia e adquirindo dois novos Estados vassalos ( Ossétia do Sul e Abkházia ) à custa da soberania georgiana . Segundo Asmus , porém , a força de contra-ataque russa entrou na Ossétia do Sul a partir da Rússia dias antes do início do ataque da Geórgia . A guerra de informação russa criou a narrativa de uma Força Armada agressiva da Geórgia , que atacou as tropas da Rússia , deixando-lhe sem nenhuma opção a não ser contra-atacar . Esse exemplo clássico de controle reflexivo permitiu que a Rússia obtivesse ganhos territoriais à custa da Geórgia . A Rússia também venceu a guerra de informação . Os veículos da imprensa europeia e órgãos internacionais culparam a Geórgia pela guerra28 .
Meios Táticos
Berzins descreve duas mudanças significativas nos meios táticos da Rússia . A primeira é o emprego de uma força híbrida , o “ uso de civis armados ( quatro civis para um militar )” 29 . A Circular de Instrução 7-100 , A Ameaça Híbrida ( Training Circular 7-100 , The Hybrid Threat ), do Exército dos EUA , a define como “ a combinação variada e dinâmica de força regulares , forças irregulares e / ou elementos criminosos , todos unificados para a obtenção de efeitos mutuamente benéficos ” 30 . Uma força de combate composta , predominantemente , de milícias locais não só gera uma economia de meios para as Forças Armadas regulares da Rússia , como também confere legitimidade ao lado russo , porque a milícia reside nas regiões contestadas .
A segunda mudança consiste em táticas que buscam evitar o conflito quando possível por meio de “ confrontos sem contato por forças extremamente interespecíficas ” 31 . Essas forças interespecíficas incluem manifestantes , agitadores , grupos de milícia , gangues de motociclistas , nacionalistas , mercenários e spetsnaz ( forças especiais ), para exacerbar a situação com o objetivo de forçar uma reação pelo governo anfitrião , o que então confere a Moscou a justificativa para intervir com forças regulares . Contudo , quando o combate é inevitável , as táticas russas são semelhantes às táticas de cerco e aniquilação do último século .
Coerências Táticas
A força híbrida e as táticas de cerco e aniquilação empregadas pela Rússia são coerentes com a história militar do país . Em 945 d . C ., os governantes russos empregaram uma tribo tártara , os pechenegues , em uma bem-sucedida campanha contra o império bizantino32 . Outro emprego de uma força híbrida foi o uso dos cossacos contra o Grande Exército , Grande Armée , de Napoleão durante a retirada de Moscou33 . Além disso , a força híbrida da União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial foi fundamental para o êxito contra a invasão alemã . Para os soviéticos , os
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