MegaZine 2 - Fevereiro 2016 | Page 4

Ao longo dos tempos modernos, o Reino Unido foi fértil na produção de artistas que ficariam na retina como alguns dos obreiros da inovação cultural e que, sobretudo, modelaram muitos dos presentes gostos da sociedade. Não é difícil reconhecer o alcance mundial e a aclamação crítica por parte de bandas lendárias como os Beatles, os Cream de Eric Clapton, os Pink Floyd de Gilmour e Waters ou o triunvirato do metal dos quais faziam parte os Black Sabbath, os Deep Purple e os Led Zeppelin. Todos estes nomes viram imenso sucesso entre as décadas de 60 e 70 e mudaram o mundo da música tal como o conhecemos daí em diante. Porém, o tempo é um conceito cruel e a aceitação de eventos fatídicos é inegável. O início deste ano tem sido particularmente taxativo para as personalidades britânicas com alguma idade, todas elas tendo o cancro como fator em comum: Lemmy Kilmister, dos Motorhead (que produziu o inesquecível Ace of Spades, para quem alguma vez jogou Tony Hawk Pro Skater 3!), Alan Rickman, que entre outros notáveis papéis, é reconhecido sobretudo pela sua prestação como Severus Snape no franchise Harry Potter, e David Bowie. Entre estes todos, Bowie será talvez aquele que mais impacto teve no mundo das redes sociais e da comunicação social em geral. David Bowie fez parte desta brilhante geração de “beefs” que, no alto da sua criatividade e rebeldia interna, modelou um mundo paralelo à sua própria visão com todo o talento multi-facetado que ele sempre se dispôs a oferecer. Primariamente um cantor e compositor, Bowie revelou aptidão em muitos outros campos, e muitos se lembram saudosamente das suas prestações como o rei Goblin Jareth em Labyrinth (1986), Pôncio Pilatos em The Last Tempation of Christ (1988) ou o génio Nikola Tesla em The Prestige (2006), numa carreira marcada pela inovação e pela reinvenção. Apesar das inúmeras participações tanto no ecrã prateado como no ecrã pequeno, David Bowie demarcou-se sobretudo na música, onde o sucesso apareceu nomeadamente com a implementação do seu alter-ego Ziggy Stardust, uma aposta na expressão, na excentricidade, na singularidade. Até hoje essas características mantiveram-se em Bowie, mesmo que Ziggy entretanto t e n h a desaparecido, e essa capacidade de surpreender pela positiva a Ziggy Stardust Tour, c a d a 1972 oportunidade fizeram sempre parte da imagem de marca de alguém que acima de tudo se mostrou um entertainer nato. Ainda depois da fase do glam rock que adquiriu tanto fervor junto do público inglês, Bowie enveredou pela via da música eletrónica, com Brian Eno, produzindo o famoso trio de álbuns conhecido por Berlin Trilogy. Conquistando tanto os norte-americanos como os conterrâneos, sucederam-se colocações consecutivas no topo das tabelas, em colaborações com bandas como os Queen, até que o seu epitomo musical se revelou em Let’s Dance (1983). Todo o seu registo mantém-se como um legado a ser apreciado. A sua contribuição para o mundo da cultura e para os corações das pessoas foi retribuído, na altura da sua morte, por incontáveis homenagens a um dos grandes pioneiros do estrelato e uma inspiração a tantos outros que vieram depois dele. Fiquemos de luto pela perda de tal figura determinante da História recente mas, acima de tudo, celebremos os seus feitos para que ele possa continuar a viver connosco. Paulo Mimoso