Ao longo dos tempos modernos, o Reino Unido
foi fértil na produção de artistas que ficariam na
retina como alguns dos obreiros da inovação
cultural e que, sobretudo, modelaram muitos dos
presentes gostos da sociedade. Não é difícil
reconhecer o alcance mundial e a aclamação crítica
por parte de bandas lendárias como os Beatles, os
Cream de Eric Clapton, os Pink Floyd de Gilmour e
Waters ou o triunvirato do metal dos quais faziam
parte os Black Sabbath, os Deep Purple e os Led
Zeppelin. Todos estes nomes viram imenso sucesso
entre as décadas de 60 e 70 e mudaram o mundo da
música tal como o conhecemos daí em diante.
Porém, o tempo é um conceito cruel e a aceitação
de eventos fatídicos é inegável. O início deste ano
tem sido particularmente taxativo para as
personalidades britânicas com alguma idade, todas
elas tendo o cancro como fator em comum: Lemmy
Kilmister, dos Motorhead (que produziu o
inesquecível Ace of Spades, para quem alguma vez
jogou Tony Hawk Pro Skater 3!), Alan Rickman, que
entre outros notáveis papéis, é reconhecido
sobretudo pela sua prestação como Severus Snape
no franchise Harry Potter, e David Bowie. Entre estes
todos, Bowie será talvez aquele que mais impacto
teve no mundo das redes sociais e da comunicação
social em geral.
David Bowie fez parte desta brilhante geração de
“beefs” que, no alto da sua criatividade e rebeldia
interna, modelou um mundo paralelo à sua própria
visão com todo o talento multi-facetado que ele
sempre se dispôs a oferecer. Primariamente um
cantor e compositor, Bowie revelou aptidão em
muitos outros campos, e muitos se lembram
saudosamente das suas prestações como o rei
Goblin Jareth em Labyrinth (1986), Pôncio Pilatos
em The Last Tempation of Christ (1988) ou o génio
Nikola Tesla em The Prestige (2006), numa carreira
marcada pela inovação e pela reinvenção. Apesar
das inúmeras participações tanto no ecrã prateado
como no ecrã pequeno, David Bowie demarcou-se
sobretudo na música, onde o sucesso apareceu
nomeadamente com a implementação do seu
alter-ego Ziggy Stardust, uma aposta na expressão,
na
excentricidade,
na singularidade.
Até hoje essas
características
mantiveram-se
em
Bowie,
mesmo
que
Ziggy entretanto
t e n h a
desaparecido, e
essa capacidade
de surpreender
pela positiva a
Ziggy Stardust Tour,
c
a
d
a
1972
oportunidade
fizeram sempre parte da imagem de marca de
alguém que acima de tudo se mostrou um
entertainer nato. Ainda depois da fase do glam rock
que adquiriu tanto fervor junto do público inglês,
Bowie enveredou pela via da música eletrónica,
com Brian Eno, produzindo o famoso trio de álbuns
conhecido por Berlin Trilogy. Conquistando tanto os
norte-americanos
como
os
conterrâneos,
sucederam-se colocações consecutivas no topo das
tabelas, em colaborações com bandas como os
Queen, até que o seu epitomo musical se revelou
em Let’s Dance (1983).
Todo o seu registo mantém-se como um legado a
ser apreciado. A sua contribuição para o mundo da
cultura e para os corações das pessoas foi
retribuído, na altura da sua morte, por incontáveis
homenagens a um dos grandes pioneiros do
estrelato e uma inspiração a tantos outros que
vieram depois dele. Fiquemos de luto pela perda de
tal figura determinante da História recente mas,
acima de tudo, celebremos os seus feitos para que
ele possa continuar a viver connosco.
Paulo Mimoso