MegaZine 2 - Fevereiro 2016 | Page 12

Arranha-céus J. G Ballard “Num imponente edifício de quarenta andares, o último grito da arquitetura contemporânea, vive Robert Laing, um bem-sucedido professor de medicina, mais duas mil pessoas. Para desfrutarem desta vida luxuosa, não precisam sequer de sair à rua: ginásio, piscina, supermercado, tudo se encontra à distância de um elevador. Mas alguma coisa estranha borbulha por baixo desta superfície de rotina. Primeiro atacam-se os automóveis na garagem, depois os moradores. Um incidente conduz a outro e, acossados, os vizinhos agrupam-se por pisos. Quando aparecem as primeiras vítimas, a festa mal começou. Entre a alucinação e a anarquia, a visão nunca ultrapassada de J. G. Ballard oferece-nos um retrato demencial de como a vida moderna nos pode empurrar, não para um estádio mais avançado na evolução, mas para as mais primitivas formas de sociedade.” Atrevo-me a dizer que este livro tem o seu quê de distópico, na perspetiva de que pouco vemos do mundo de hoje, ou de algum mundo sequer. Apenas vemos o arranha-céus, as suas regras e as suas manias. Só existe o arranha-céus, tudo o que passa para além dele não existe, é uma ilusão e não interessa. Fabulosamente escrito, cativou-me desde o início. Imaginem uma sociedade de classes como atualmente existe. Agora imaginem que vivem várias classes no mesmo edifício e que têm uma vida normal, são vizinhos, ouvem-se uns aos outros durante a noite (o isolamento falhou bastante na construção), são tal e qual nós e os nossos vizinhos. Agora imaginem que a noção de civismo deixou de existir, não há policiamento e cada um pode fazer o que lhe apetecer. Ballard leva-nos ao limite da depravação humana. Fica o pensamento: Como seríamos realmente se não existíssem algumas das normas que a sociedade nos impõe? A Minha luta:1 A morte do pai Karl Ove Knausgård “Karl Ove Knausgård escreve sobre a vida com dolorosa honestidade. Escreve sobre a infância e os anos de adolescência, a paixão pelo rock, a relação com a sua afectuosa e algo distante mãe, e o seu pai, sempre imprevisível, cuja morte o desorientou. O álcool e a perda pairam como sombras sobre duas gerações da família. Quando ele próprio se torna pai, Knausgård tem de encontrar um equilíbrio entre o amor pela família e a determinação em escrever. Knausgård criou uma história universal de lutas, grandes e pequenas, que todos enfrentamos na vida.” Confesso que quando este livro foi editado não me chamou a atenção mínimamente, não gostei da capa, não gostei do tema, pouco me importava a vida deste senhor. Tudo mudou quando li uma entrevista dele, que saiu no Expresso. Rendi-me completamente. Adorei a visão, adorei o autor. Peguei então pela primeira vez no livro com olhos de ver e li as primeiras páginas. Profundo, verdadeiro e emocionante, Karl faz-nos viajar com ele pelas aprendizagens da vida, descrevendo-a de forma tão honesta e por vezes tão fria que é fácil esquecermo-nos de que estamos a ler um r o m a n c e autobiográfico. Este é o primeiro de seis volumes do autor norueguês, três deles já publicados em Portugal pela editora Relógio D’Água. São eles “Um homem apaixonado” e “A ilha da infância”. O Torcicologologista, A Seleção / A Elite / A Escolha Kiera Cass Excelência Gonçalo M. Tavares “- Gosto muito de bater na cabeça das pessoas com uma certa força. - Gosta? - Sim, agrada-me. Dá-me prazer. Uma pessoa vai a passar e eu chamo-a: ó, desculpe, Vossa Excelência?! - E ela - a Excelência - vai? - Sim. Quem não gosta de ser chamado à distância por Vossa Excelência? Apanho sempre, primeiro, as pessoas pela vaidade… é a melhor forma. - E quando a pessoa-Excelência chega ao pé de Vossa Excelência, o que acontece? - Ela aproxima-se e pergunta-me: o que pretende? E eu, com toda a educação e não querendo esconder nada, digo: gostava de bater com certa força na cabeça de Vossa Excelência. É isto que eu digo, apenas. Nem mais uma palavra.” São pequenos diálogos de cada vez, que vão surgindo e que parecem divertir, têm piada, são até “levezinhos”. Quando reparamos, entrámos numa espiral de noções básicas do que é errado ou certo. O que é a coragem? Será que é possível ser corajoso e medricas ao mesmo tempo? E quando isso acontece? Pequenos diálogos que nos fazem refletir em questões simples da vida, questões que nem sempre partilhamos com os nossos amigos. Algumas ficam mesmo a boiar no nosso pensamento como se fossem tímidas. Tavares faz-nos trazer tudo cá para fora. “Para trinta e cinco raparigas, A Seleção é a oportunidade de uma vida. É a possibilidade de escaparem de um destino que lhes está traçado desde o nascimento, de se perderem num mundo de vestidos cintilantes e joias de valor inestimável e de viverem num palácio e competirem pelo coração do belo Príncipe Maxon. No entanto, para America Singer, ser selecionada é um pesadelo. Terá de