Matemática Interativa 1 | Page 15

Reportagem retirada do G1

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Anos atrás, quando os professores americanos Robert e Ellen Kaplan conversavam sobre suas rotinas em sala de aula, eles constataram algo. Bob, professor de uma das mais conceituadas instituições de ensino do mundo, a Universidade de Harvard, e Ellen, que então lecionava em uma escola regular (hoje ela é também professora de Harvard), perceberam que um ponto unia seus alunos: todos eles odiavam Matemática.

Com surpresa, o casal constatou que as raízes da rejeição da disciplina estava, basicamente, no fato de que muitos professores tinham medo da Matemática e se mostravam muito bons em ensinar o seu medo. “É um mito de nossa cultura e do nosso tempo que a matemática é somente para poucos escolhidos, que ela é super humana, para super-homens somente. A matemática é a nossa linguagem nativa perdida, que se redescobre explorando-a e praticando-a”, diz Bob.

É essa descrença na capacidade de resolver problemas matemáticos que alimenta a aversão pela área, apesar de provar-se infundada. Ellen explica: “A matemática é mais fácil de dominar do que as irregularidades surpreendentes e as regras estranhas da linguagem, falada ou escrita. A mente tem uma afinidade com a matemática assim como o corpo tem com a dança”.

Para os professores, ficou claro que, primeiro, era preciso mostrar que a Matemática não é um bicho de sete cabeças, mas algo próximo de nossa realidade, presente em diversas situações do nosso a dia a dia.

Assim nascia o The Math Circle (Círculo da Matemática, em livre tradução), metodologia de ensino que dispensa as aulas expositivas e coloca o aluno como protagonista da aprendizagem. Nenhuma informação é passada de antemão, os alunos precisam raciocinar e questionar para descobrirem as respostas por sua conta.

Sob o bordão “Diga-me e eu esquecerei, pergunte-me e eu descobrirei”, o método vale-se de conversas informais para estimular as descobertas e a imaginação. “Platão escreveu que, porque somos os brinquedos dos deuses, nós devemos jogar os jogos mais nobres. A Matemática é o mais nobre dos jogos. Explorar a sua paisagem escabrosa, inventar nosso caminho através dela é uma das coisas mais empolgantes que os humanos podem fazer”, lembra Bob.

Nunca dizer de primeira as respostas aos estudantes, usar o erro pedagogicamente para organizar o pensamento dos estudantes, não incentivar a cópia do quadro e não ser um escravo dos conteúdos são algumas das orientações do casal Kaplan. “Chegar às questões corretas não é o objetivo de tudo. O segredo está na construção do processo. Brinque com o resultado. Não termine o problema com a questão certa, extrapole, invente, aplique o resultado. Pergunte se existem outras formas de se chegar ao mesmo resultado. Tente terminar em uma nota alta com uma questão aberta: ‘Vamos imaginar o que pode ser feito com esse resultado na próxima aula'”, explica o site do projeto.