20 HISTÓRIAS PARA G.A.S. PORTO
22 | CARTA DO AMIGONÃO ADORMECER
Histórias para
não adormecer
Entrei nana história do em 2012, altura em que entrei no
Entrei história do Paulo Paulo ano 2012, altura
G.A.S.Porto. Conheci um senhor barbudo, de poucas palavras e
em que entrei no G.A.S. Porto. Conheci um senhor
olhar amargurado… Era talvez o maisamargurado… Era talvez
barbudo, de poucas palavras e olhar inacessível de um grupo
de homens que se de um grupo de homens que se alimentava
o mais inacessível alimentava na carrinha do CASA.
Os meses foram
na carrinha do CASA. passando e, numa noite como tantas
outras, acabamospassando e, numa noite como tantas Ele
Os meses foram por ter uma conversa mais longa.
queria desabafar e eu estava conversaouvir. Quando o Paulo
outras, acabamos por ter uma lá para mais longa. Ele
queria desabafar e eu estava lá para pelos seus 45 Paulo
conversava, lá íamos numa viagem ouvir. Quando o anos: da
conversava, lá íamos que viu e sentiu, seus 45 anos: com
violência doméstica numa viagem pelos aos problemasda
violência doméstica que viu e sentiu, aos problemas com
drogas e álcool, passando pelos empregos de que gostou, pela
drogas e álcool, passando pelos empregos de que gostou,
família de que tinha saudades…
pela família de que tinha saudades…
Passaram mais meses e, após tantas conversas saudosas, o
Passaram mais meses, e após tantas conversas saudosas,
Paulo retomou o contacto familiar. Aplaudi o o ato de coragem
o Paulo retomou o contacto familiar. Aplaudi ato de coragem e
mantive-me ao lado dele.
e mantive-me ao lado dele.
Entretanto, iam surgindo as minhas perguntas: “não gostavas de sair da rua?”, “porque não procuras a tua assistente social?”. Lentamente, o Paulo acreditou que tinha capacidade para reconstruir a sua vida!
Em dezembro de 2012 deu mais um passo: fomos até à Segurança Social marcar um primeiro atendimento. Entre avanços e
recuos, demoras e burocracias, quase voltava atrás na decisão de sair da rua… Mas nunca desistimos!
Já em finais de fevereiro chegou o momento de procurar quarto e, no dia 1 de março de 2013, o Paulo tinha a chave de uma
nova vida na mão!
Hoje, um ano e meio depois, continua a caminhar para a integração plena: já não recorre às carinhas para se alimentar; está
numa casa com as condições básicas, motivado para encontrar um emprego e já tem feito trabalhos esporádicos; a ligação com
a família está mais forte, e ele próprio está a construir um núcleo familiar, com uma companheira e a filhota que nasceu no
passado mês de abril!
A nossa ligação nunca se quebrou. Agradeço diariamente o privilégio de aplaudir cada vitória e incentivar cada passo
deste homem cheio de coragem!
Isabel Pereira