MAC N.º 1 - O Guerreiro | Page 12

- MAC - O Guerreiro - 1ª Edição Literatura impotência e pela tristeza. Sente -se vergar com o peso dos fardos demasiado carregados com as palavras que não se trocaram e os momentos que não se partilham por crermos estupidamente numa estável eternidade, que nos oferece de mão beijada todo o tempo do mundo. Não podia ser verdade, ele não podia simplesmente ter partido para essa viagem sem retorno. A dissonância torna-se tão forte, que se deita de olhos fechados. Tenta acalmar-se e silenciar-se com respirações compassadas, mas as memórias vencem, transformando-se num filme projectado pela mente. A pelicula é tão magnificente que rapidamente aceita vê -la. Quando esta termina, abre os olhos molhados tanto pela tristeza do seu desaparecimento presente como pela felicidade da sua permanência passada. Sorri-lhe de forma sentida, enquanto observa o céu. Não por achar que ele esteja lá em cima a vê-la, mas por sentir que ele permanece a seu lado a ver o mesmo que ela. Limpa as lagrimas ao lembrar-se que seriam a última coisa que ele desejaria produzir n os outros. Isso lembra -lhe que era ridículo chorar pelo que não retorna e pelo que já não pode acontecer. A vida é curta demais para isso, como ele lhe acabara de ensinar drasticamente. Volta a sentar -se, impulsionada por todas as lições que ele lhe ti nha oferecido e continuaria a oferecer. Mesmo que o corpo dele tivesse deixado de funcionar, uma parte dele continuaria sempre viva dentro dela e de todos os outros que por ele haviam sido Tocados. Deixa-se ficar sentada de olhos no horizonte, enquanto o continua a recordar durante várias horas. Ergue-se repentinamente ao relembrar aquele sonho comum de abraçar o horizonte, a utopia. Então, caminha propositadamente fora dos trilhos do bosque até chegar à praia, onde mergulha e nada por várias milhas até à cas(c)a que era só sua. Permaneceu lá por muito tempo até que um dia decidiu voltar à ilha e à casa do bosque. Foi doloroso ver todos ali reunidos sem Ahddub, mas a felicidade de eles permanecerem ali equilibrou as contas. Todos se calaram, surpreendidos, pelo que aproveitou o gesto para se explicar. - Durante o meu silêncio, ocorreu -me que provavelmente todos partilhamos o mesmo cenário nos nossos sonhos. Portanto, fiz algumas pesquisas, arrumei algumas ideias e tenho alguns projectos para partilhar. Acho que é hora de começar a materializar. 12