Lê e ler Edição 12 | Page 13

A autora ainda escreveu em vida mais três obras literárias, “Casa de Alvenaria” (1961), “Pedaços de Fome” e “Provérbios” (1963), estas obras literárias não obtiveram a mesma expressão comercial que “O Quarto de Despejo: O Diário de uma Favelada”.

Carolina Maria de Jesus ainda se lançou como cantora, criando um disco de músicas autorais, contendo 12 faixas musicais no ano de 1961.

Infelizmente, a autora sofreu muito preconceito por causa de sua origem. Críticos literários da época questionaram a capacidade de alguém como ela de escrever um livro com tanta repercussão e sucesso, a maioria dos críticos, por sinal, questionaram se a autoria da obra não era do jornalista que revelou a autora e virou o seu agente literário.

Carolina Maria de Jesus faleceu em de 13 de fevereiro de 1977, aos 62 anos de idade, vítima de insuficiência respiratória.

Postumamente foram publicadas mais 05 obras literárias da autora, “Diário de Bitita” (1982), “Meu Estranho Diário” e “Antologia Pessoal” (1996), “Onde Estaes Felicidade” (2014) e “Meu sonho é escrever...: Contos Inéditos e outros Escritos” (2018).

Todas estas obras literária de Carolina Maria de Jesus, são arquivos de caderno e outros tipos de arquivos que a autora não conseguiu publicar em vida. Suas são materiais de estudos sociais em âmbito nacional e estrangeiro.

Carolina Maria de Jesus foi apelidada como “pérola negra”, o que é uma analogia muito verossímil, visto que uma pessoa com poucos recursos, cursando um nível educacional inferior ao básico, viver a maior parte de sua vida à margem da sociedade, ter tido a capacidade de criar 04 livros em vida e suas anotações ainda virarem 05 livros póstumos. Realmente estamos falando de algo incrível.

A capacidade que a autora tinha de expressar a verdade em sua escrita, sendo a mesma, praticamente autodidata, é algo que transcende o próprio ser.

transcende o próprio ser.

Há quem diga que a obra literária “O Quarto de Despejo: O Diário de Uma Favelada” não alcançou o objetivo de fazer a alta sociedade se atentar quanto às pessoas menos favorecidas financeiramente, mas cabe um ponto de reflexão:

“Se não tivermos paciência para respeitar o processo, o mesmo nunca chegará a seu objetivo!”

Aqueles que pensam que a obra da autora não atingiu o seu objetivo talvez não tenham analisado o contexto maior, que era mostrar para a sociedade brasileira e internacional, a discrepância entre as classes sociais, e isto ela conseguiu realizar em sua obra.

Se existem pessoas que esperavam que sua obra transformasse o pensamento da sociedade brasileira, talvez não tenham percebido que nunca foi este o cunho da autora, mas pode acontecer futuramente e, quando for o caso, a obra literária será lembrada como o início da conscientização social, assim, ela terá alcançado o objetivo esperado.

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“Em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos em habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós pobres somos os trastes velhos.”

Maria Carolina de Jesus.