Lê e ler Edição 12 | Page 11

Além do ofício da coleta de lixo, que Carolina Maria de Jesus fazia, o seu primeiro emprego formal foi na casa de um famoso cardiologista..

Aliás, na época, o patrão de Carolina Maria de Jesus era o mais renomado cardiologista da Cidade de São Paulo e um dos que tinha mais renome em todo o país. Ele tinha uma grande biblioteca em sua casa.

O patrão de Carolina Maria de Jesus permitia a então funcionária ler livros de sua biblioteca particular, quando a mesma estivesse em período de folga, o que permitiu a autora um conhecimento maior sobre os mais variados estilos e gêneros literários, além de ampliar a sua capacidade cognitiva.

Após o nascimento do filho, João José, Carolina Maria de Jesus também teve mais dois filhos, um menino chamado José Carlos, nascido em 1949, e uma menina que chamada Vera Eunice, nascida em 1953.

O ofício de Carolina Maria de Jesus de coletar lixo, além de sustentar a sua família, também serviu para que ela obtivesse os primeiros materiais de trabalho, pois durante as coletas de lixo, ela conseguia cadernos usados, que foram o seu material de trabalho.

Ao todo foram encontrados mais de 20 cadernos com histórias de Carolina Maria de Jesus, que não eram nada além de diários e materiais de produções literárias em geral.

A sensibilidade da renomada autora permitia analisar todo o cotidiano da vida das pessoas mais próximas (pessoas da comunidade), a qual descrevia com as suas próprias palavras, apresentando o seu ponto de vista sobre tudo que presenciava.

Desta forma, pode-se dizer que Carolina Maria de Jesus foi uma das escritoras que mais utilizou o seu conhecimento empírico para escrever.

Dentre esses diversos cadernos, um deles se transformou no seu maior sucesso, “O Quarto de Despejo: O Diário de uma Favelada”, que foi escrito na forma de um diário no ano de 1955 e publicado nacionalmente em 1960.

A história deste icônico livro começa com uma dose de sorte da autora, mas que pode ser também definida como uma premeditação do destino.

No ano de 1958, um jornalista chamado Audálio Dantas conheceu Carolina Maria de Jesus quando o mesmo foi fazer uma reportagem na extinta comunidade do Canindé.

Carolina Maria de Jesus confidenciou ao jornalista que estava buscando mostrar o trabalho dela para alguém que se interessasse, mas que até aquele momento não havia encontrado alguém que se interessasse em pelo menos analisar o material.

A partir deste primeiro encontro entre a autora e o jornalista, a intrigante história de uma moradora de comunidade carente, que dizia ter escrito um livro, com o preconceito exacerbado o qual as classes sociais menores tinham, fez com que o jornalista decidisse aceitar um convite de Carolina Maria de Jesus para analisar o material que a autora havia escrito.

O jornalista Audálio Dantas, após conhecer o material da autora, escreveu: “Achei que devia parar com a minha pesquisa, porque tinha quem contasse melhor do que eu. Ela (Carolina Maria de Jesus) tinha uma força, dava para perceber na leitura de dez linhas, uma força descritiva, um talento incomum.”

Apesar dos inúmeros cadernos de Carolina Maria de Jesus conterem os mais variados gêneros literários, escritos através dos mais diversos estilos, o diário do ano de 1955 chamou mais a atenção do jornalista.

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