Lê e ler Edição 09 - Evy Maciel | Page 37

bastante interessante a meu ver.

A série é uma grande alusão ao cotidiano do Rio de Janeiro, marcado pela violência e falta de segurança pública. Algum fato impactante foi de extrema importância para a escrita dos livros? Ou pretendia apenas mostrar aos leitores qual é a realidade que assola a Cidade Maravilhosa?

A realidade da nossa cidade é bastante notória. Entretanto, eu quis mostrar que, ao contrário do que muitos pensam, mortes são investigadas e autorias são reveladas sim, embora os números estejam mais favoráveis à criminalidade e não à polícia, por fatores diversos que não caberia dissertar aqui. Quis mostrar, também, que a classe média e a classe alta nem sempre saem ganhando, que eles podem ter suas estruturas abaladas de vez em quando, e que nem todos os profissionais de segurança pública são desonestos ou omissos; muitos deles entram de cabeça nas investigações que estão sob suas responsabilidades e até são punidos injustamente por isso. Mas, essa série neo-noir acabou me levando a buscar a História do Rio, tanto que o livro 4 (Sob o signo de Escorpião – Parte II – Legado) está em andamento e se passa em parte nos Anos Vinte, onde respostas para mistérios que os personagens enfrentam serão encontradas.

Conte um pouco de sua trajetória de vida.

Caramba (risos)... Completo 46 anos mês que vem, logo, já deu para traçar uma trajetória razoável até agora. Sou filha única, nascida de mãe carioca e pai pernambucano no Rio de Janeiro, onde fui criada e moro até hoje; sou geminiana e houve uma época em que estudei Astrologia; desde muito nova gosto de Mitologia Grega e, inclusive, trago para minha fé os ensinamentos dos antigos helenos. Estudei em escolas públicas até o Ensino Médio, formei-me em Direito em 2007, quando meu filho já estava com 13 anos; fiz pós em Direito Penal e Processual Penal e ingressei no serviço público há 16 anos, no cargo de Oficial de Cartório Policial (antigo cargo de Escrivão).

Como é conciliar a vida de mãe, autora e também advogada?

Faço isso há 24 anos, então, é algo bastante natural para mim. Na verdade, as mulheres lidam com essas jornadas múltiplas, acho que lidamos bem com isso. Sou Bacharel em Direito com especialização, mas jamais advoguei porque meu cargo de policial não me permite. O que não muda a jornada tripla de sua pergunta, pois o trabalho como policial é bastante intenso também, mas acaba me ajudando no processo criativo das tramas dessa natureza (eu escrevo histórias sobrenaturais, não só noir), já que minha rotina é lidar com investigações, com pessoas de naturezas diversas, ler as mentiras e medos em seus olhos, decifrar os gestos e trejeitos inconscientes de cada um que se senta diante de minha mesa, seja para depor ou para comunicar algum fato criminoso.

Na sua opinião, acredita que é difícil ser mãe nos cenários atuais no país? Não percebemos que enquanto seguimos em nossos rumos, compartilhamos uma atmosfera de medo, insegurança, corrupção e um futuro incerto.

É uma grande responsabilidade ser mãe em qualquer lugar e época, porém, diante do caos em que vivemos, acho que passa a ser até mesmo um risco. Optei por ter apenas um filho e agradeço por ter conseguido ajudar a formar um adulto de bom caráter. Só que as novas gerações estão perdidas porque ou são protegidas ao extremo ou são soltas demais e fazem o que querem. O que vejo hoje em dia é que muitas mães e pais não querem se incomodar, acham que a escola tem que dar conta de tudo. O mundo está aí, cheio de oportunidades boas e ruins, e chega uma hora que nossos filhos encaram a sociedade, se deparam com essas escolhas, e não temos mais o controle sobre seus destinos. Está complicado demais colocar uma vida no mundo quando não conseguimos dar conta de nós mesmos.

Enfrentou ou ainda enfrenta desafios para continuar seus trabalhos literários?

Alguns, como: cansaço físico e mental, o bloqueio literário (que vem sem avisar e nas piores horas) ... Não vejo outros que me impeçam de dar seguimento aos meus projetos, porque quando coloco na cabeça que vou iniciar e terminar uma trama nova, eu faço isso. Acho que o desafio maior para o escritor, especialmente o brasileiro e ainda não consagrado, é lidar com o mercado. Os brasileiros em geral não são leitores vorazes, e há uma desconfiança grande quando se deparam com autores pátrios. Desafios externos são bons, o que me desanima mesmo são os internos, como já mencionei.

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