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A INESPECIFICIDADE NO POEMA ''O POETA SE CONFESSA ENFASTIADO DE SUA PROFISSÃO'', DE AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA

Affonso Romano de Santana é considerado um escritor múltiplo: poeta, docente, crítico e teórico e sem, dúvida isso sendo, por conta disso, objeto de estudo, junto com outros que apresentam também tal perfil, de pesquisadores de uma linha de pesquisa na UFBa: “O escritor e seus múltiplos”. Os estudos produzidos pela equipe demonstram que tal perfil influencia a produção do intelectual, literata, em todas as suas múltilas faces .

O poema que aqui resenhamos, escrito pelo autor em Los Angeles, nos idos de 1967, publicado em 1975 no livro Poesia Sobre Poesia, é interessante por apresentar um conflito entre duas faces suas: a do poeta e a do professor.

O título do Poema, “O poeta se confessa enfastiado de sua profissão” figura, no volume, em página separada do texto poético, e recebe uma nota explicativa ao final do texto, que o contextualiza e ao próprio momento do poeta ao escrever o poema. “Esse foi o primeiro poema que escrevi dentro dessa linha de tentar teorizar sobre poesia dentro da própria poesia ao mesmo tempo em que me exorcisava de meus fantasmas literários. Escrito em 1967, já traz o impasse entre o professor e o poeta.”

Trata-se de uma teorização sobre poesia dentro do próprio texto poético e, além disso, apresenta dezesseis notas explicativas ao final do mesmo, que são referidas ao longo de várias passagens, através de números, tal como ocorre em escritos dissertativos, ensaios, artigos, teses dentre outros, e isso no âmbito de um texto supostamente lírico segundo declarado pelo autor, e evidenciado pela sua estruturação em versos e estrofes.

O que observamos com isso é a presença de um traço que não é característico do gênero poesia, além de cumprir um objetivo que seria, segundo o autor, o de teorizar sobre a poesia dentro da própria poesia, a poesia enquanto metapoesia.

ÂNGELA BELAS