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O livro “Pequenas Grandes Mentiras” pode ser enquadrado nessa linha de raciocínio. Como um “best seller”, o livro foi um dos mais vendidos ao redor do mundo, além de receber ótimas críticas de jornais conceituados como o The New York Times e o Entertainment Weekly. Nesse contexto, o livro pode ser considerado uma obra de arte, mas se pensarmos no uso desse livro em outra ocasião, por exemplo, o usando como apoio de uma mesa que está desnivelada, nessa outra situação, o livro deixa de ser obra de arte e se torna um simples calço de mesa, não? De acordo com Goodman, sim. A ideia desse livro como obra de arte pode mudar com o tempo também. Daqui a alguns anos o livro pode ser retirado das prateleiras e vitrines das livrarias, cair no total esquecimento e deixar de ser arte. Segundo Goodman essas questões podem definir o que é arte e o que não é.

Prosseguindo para a noção crítica do filósofo alemão Walter Benjamin, que teve sua compreensão aprofundada após sua tese de doutorado sobre o romantismo russo, para ele em uma obra o material histórico e seu conteúdo objetivo devem sempre ser identificados pelo crítico - inserido aqui como leitor - em sua análise. A análise feita por Benjamin dá-se enfoque no comentário, e se mostra como condição prévia para se chegar à “verdade” da obra. Se não houver o reconhecimento dos elementos que distanciam a obra da época do crítico pode levar ao apagamento de traços históricos importantes que fomentam o material importante à compreensão da resistência da obra ao tempo, assim como o reconhecimento da verdade da obra. Associando essa idéia ao livro toma-se nota o tema tratado na história que se resume a violência doméstica e suas consequências ramificadas em uma família, tema esse totalmente condizente e relacionável com a época em que a escritora desenvolveu a obra, bem como ao tempo em que seus leitores vivem, podendo, quem sabe, perpetuar por algum tempo e a obra ainda ser significativa até lá. Segundo Benjamin a possibilidade de intensificação da consciência na crítica é infinita, pois a obra em sua singularidade se liga ao absoluto da arte. Através da crítica, a reflexão contida na obra de arte é “despertada e levada à consciência e ao conhecimento de si mesma” (Benjamin, 1989). Podemos assimilar isso de forma que ao ler a obra o crítico, o leitor, pode fazer uma reflexão a sua maneira, a partir das idéias e debates provocados pelo livro e então dar infinitude ao até então finito que a obra apresenta.