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O fruto conta com apenas duas atrizes e o cenário se passa quase que inteiramente dentro de apenas um cenário: a casa da Laura. ‘’Como será possível realizar um filme em um único cenário sem que o mesmo se torne monótono? — Uma vez que o cinema trabalha com mudanças de cenas, sobreposições de imagens, locações de cenário para que o resultado seja dinâmico e o enredo se desenrole de forma coesa, já que cenário é um dos pontos que compõe a história e situam os personagens no espaço — E duas atrizes? Ah não, definitivamente esse filme deve ser mergulhado em marasmo e tédio!’’ São esses os primeiros pensamentos de quem está acostumado com grandes produções hollywoodianas ou até mesmo, apenas filmes. Mas aí está o pulo do gato, o fato de ter apenas duas atrizes e ocorrer em um cenário transmite a obra um certo cunho teatral e dinâmico, totalmente contrário a qualquer monotonia. Kamila Pistori e Amandha Monteiro aproveita de todas as formas os espaços, correndo, dançando, pulando, fazendo dos próprios corpos cenário, e com diálogos que expressam uma sintonização e articulação impecáveis entre elas. Uma verdadeira performance que nos permite transitar entre espectador de um filme e de uma peça teatral, ou melhor, sendo os dois, nos colocando também no plano do inespecífico.

A trilha sonora do filme, como já referida, é composta por músicas escritas por Oswaldo Montenegro e tocadas por Madalena Salles e Janaina Salles, uma flautista e a outra violinista e apesar de haver apenas duas atrizes, em um outro plano e ambiente paralelo ao filme se encontra as duas musicistas caracterizadas com pinturas no corpo e rosto e tocando seus respectivos instrumentos. Madalena e Janaina literalmente performam ‘’numa sala ao lado’’ que se encontra Laura e Ana, mas que ao mesmo tempo está dentro, pois ao decorrer do filme a câmera sai do cenário das personagens e muda para o plano que está as duas musicistas. É como se saíssemos da obra, mas ao mesmo tempo não, pois as músicas transmitem o estado íntimo das personagens, que gradativamente vão mudando seu humor e seus pensamentos que são transliterados pelas canções, fazendo com que seja essencial para o desenvolvimento da história.

Flutuar entre romance, peça, poesia, narrativa, performance; um caldeamento rico e produtivo, que é tudo, mas ao mesmo tempo é cada um e que afasta o pensamento binário de OU é isso OU é aquilo e sim é isso E é aquilo, sem perder suas propriedades particulares.