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Ao ler os comentários da publicação ( que estampava a imagem do quadro e o descrevia como escandaloso), era possível encontrar algumas pérolas como as transcritas abaixo:

“ Uma buceta peluda é arte!!!! Que tempos meus

amigos que tempos” - @FatoVenereo

“ Não é possível que isso é uma obra de arte

kkkkkkkkkkkkkkkkkk” - @bernardo_zv

“Isso é uma pornografia barata” - @FrancilinoM

Porém, em meio a tantos comentários carregados de ignorância, havia também alguns mais sensatos, como este:

“ Para os estudantes de Artes e Ciências Sociais estamos vivendo um momento único. Antes o professor, ao mostrar essa imagem, certamente desafiava os alunos com: 'imaginem o impacto que essa obra causou naquela época'. Hoje não é preciso imaginar”.

- @reasilvabr

O que se pode concluir a partir dos primeiros comentários transcritos é que muitos

brasileiros atualmente se encontram completamente desconectados do conhecimento e cegamente apegados a uma ignorância, por vezes até orgulhosa. Mas numa tentativa de reflexão mais profunda em torno dessas opiniões é possível se chegar a questionamentos amplamente debatido por teóricos da arte.

Uma visão conservadora da arte, não é capaz de abarcá-la em toda a sua amplitude, por

tentar reduzí-la somente ao que é “belo” e moralmente aceitável segundo seus padrões.

Tal perspectiva de arte, já foi elaborada por teóricos como Lev Tolstói. Segundo ele, a

arte contribui para o progresso moral da humanidade, tendo assim uma função moral e social (Gonçalves, 2013). É no mínimo curioso, que a imagem de uma mulher nua

represente ainda hoje reações similares às que teria, por exemplo, um europeu da Idade

Média, que enxergava a arte como obrigatoriamente subordinada a um fim educativo,

edificante, a serviço da salvação da alma de fiéis, não havendo lugar para uma obra

blasfema, sacrílega, iconoclasta, dissolvente, corruptora.