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RESENHA CRÍTICA ACERCA DO QUADRO “L'ORIGINE DU MONDE”

(1866), GUSTAVE COURBET

Quando penso em arte e no seu poder de despertar reflexão, uma imagem que me vem à cabeça frequentemente é a obra do pintor francês Gustave Courbet, chamada “L’Origine du Monde” ( A origem do mundo), do ano de 1866.

A imagem por si só é capaz de causar reações variadas devido a sua explicitude e crueza. Aquela silhueta nua e escancarada que é apresentada na tela, pega muitos de surpresa, causando certo estranhamento em um primeiro momento, desembocando em alguma reação positiva, ou não, da parte de quem a observa. Mas o artista vai além, e através do título escolhido para o quadro, faz com que a pintura transcenda o próprio sentido de arte.

Retratar o sexo desnudo de uma mulher como sendo a “origem do mundo” é uma sacada que poucos gênios teriam para ampliar de tal forma o sentido dessa pintura realista. O casamento perfeito entre título e imagem joga as reflexões e análises a partir dele para o campo filosófico e poético por remeter ao poder feminino gerador da vida e ao ventre pelo qual todos os seres humanos passaram um dia. Porém, quando o assunto é arte, as controvérsias são quase sempre inerentes. Ainda mais quando a obra em questão toca em um assunto tão polêmico como a nudez.

Em setembro deste ano, foi divulgada pelo jornal O Globo, a notícia do descobrimento da identidade da modelo pintada por Courbet, 150 anos depois da produção da obra. A descoberta foi feita pelo historiador francês Claude Shopp, que estava estudando as cartas de Alexandre Dumas Filho para um livro. A modelo era uma dançarina chamada Constance Quēniaux, que era amante do diplomata otomano, Halil Serif Pasha, que encomendou a obra a Courbet para sua coleção de arte erótica.

ANA FLÁVIA SANTANA