Kink 101 Vol 3 | Page 26

Eu sou o Pássaro-do-Sol www.jonatanstrange.com Mania de falar de livros. Café combina muito bem. Tanto com os livros, como com a mania de falar deles. Numa das tantas reclamações da ausência do mesmo, alguém, inusitadamente, se compadece da minha súplica e aumenta o coro "Alguém dê por favor um café para o Senhor". Algo realmente bobo. Num tom que parecia sem maiores pretensões. Parecia. Desconfio seriamente que naquele 20 de agosto ela já sabia mais sobre mim do que eu imaginava. Mas, pouco importa hoje ou algum dia. Lívia, não era o nome dela, mas, é assim que vou chamar. Poderia se chamar Ana, Bárbara ou Catarina. Uma mulher comum apenas. Talvez. Cheia de medos e vontades. Gostava de ler, tinha vergonha em dizer que consumia pornografia todos os dias e adorava os personagens da Disney. Não morava perto. Falei que não gostava de pessoas de longe, ou se gostava, não criava maiores expectativas. Ia acontecer algumas vezes, muita vontade, a distância iria doer e nos afogaríamos em horas gastas de longos diálogos em tecnologias que não aquecem o pé no inverno. Também gostava do inverno e odiava o calor do Rio, mesmo tendo nascido lá. Mas, pouco importa, sabia que ia terminar os estudos e morar num lugar frio. Talvez com neve. Quem sabe o Canadá. As roupas longas escondem bem os hematomas e ela tentava preservar eles, mesmo com a facilidade que tinha em não se marcar. Queria ser marcada. Mas, os homens sempre a tratavam como princesa, aquelas que gostava, mas, não queria ser igual. Sempre preferiu os vilões e o ser forçada. Aliás, era o que mais desejava sempre. Ser forçada a tocar outra mulher, a ser objeto para muitos homens, ser forçada a ser privada e privada. Mas, no mundo real é difícil falar algo assim. Ainda mais pela educação que teve, extremamente conservadora e respeitosa. Não demorou muito para os diálogos longos logo demonstrarem o interesse da moça. Avisei que não se iludisse, eu tinha outras e de muito mais perto. Não se importou e ainda se fez mais presente. Tão presente, que desembarcou no aeroporto. Fiz todo aquele terrorismo "irá se ajoelhar e beijar os 26 por Jonatan Strange Ilustração por Jana meus pés no aeroporto, na frente de todos, como prova do que quer... não, apenas vir não demonstra nada". Acabei arranjando motivos e houve um atraso proposital. Mandei que pegasse um táxi e que fosse para o hotel. Que tomasse um banho, apagasse as luzes e me esperasse vendada. Não, ela não iria me ver. Um ótimo primeiro contato. Claro, detalhes técnicos. Porta fechada. "Deixe o seu recado após o sinal, bipi", caixa postal. Bato na porta. Escuto um arrastar do outro lado e logo a maçaneta não me impede mais. Tremendo, era de se esperar. Respiração alterada. Gostei do cabelo dela, faz volume entre os dedos. Puxo um pouco para o rosto ficar melhor exposto. O primeiro tapa, mesmo com a pouca luz que teima em entrar pela janela, deixa a bochecha vermelha. O próximo é no outro lado, simetria, com as costas da mão. Um pequeno gemido. Curto. Boto ela de joelhos pra cheirar a minha braguilha. Apenas. Não há palavras. Ela tenta erguer os braços para abrir a minha calça e jogo eles para trás. Apenas cheire. Entende o recado, mesmo em silêncio. Era uma noite agradável de outubro. Muito já havia sido combinado. A palavra, gestos caso não conseguisse falar e sempre sem perder o foco "você vai ser apenas testada". Tolice minha pensar assim. Ou pelo menos dizer algo assim em voz alta, sendo que sei que gostei dela, a doçura e o tanto que faz por mim. Antes mesmo de pisar na ilha já havia chamado ela de egoísta e que só estava vindo porque não havia encontrado alguém com coragem de dizer isto antes. Eu sei que doeu. Mas, se não dói, não é real. E sem dúvida o que ela procurava era abandonar a máscara, aquela que tanto pesava no rosto pra fingir ser "boa moça". Ela era uma vadia, nunca duvidou disso, mas, a vergonha não deixava de ser maior por conta de tal certeza. "Não tenha pena de mim" foi uma das últimas frases antes do silêncio de hoje. E ela tinha esperança que realmente tivesse. Aquela noite aconteceu, coisas simples e básicas, que servem pra leitura do outro. Corpos estranhos dão muito trabalho para a percepção. Estava cansado e logo fechei os olhos. Tive a sensação que continuou a me observar, como se tudo o que tinha desejado acabara de ganhar pele e cheiro. Acordo com a mesma impressão. Tenho