Kink 101 Vol 3 | Page 24

afins não desmerece o serviço dessa literatura, mas também não contribui para a evolução das práticas BDSM no dia a dia. O que perverte é o que faz pensar a mente naturalmente libertina e cada um possui um código que só é acessível por uma linguagem adequada ao seu universo emocional e imagético, ou seja, ao seu repertório. De que adianta eu querer apresentar Verdi a quem só ouve Munhoz e Mariano desde criança? Pode adiantar sim! Assim como não devemos entrar na onda da alta e baixa cultura quando se fala em música, porque a cada um cabe a sua nota que arrepia, também não devemos condenar uma literatura mais simplória. Se está fazendo mulheres e homens felizes, está cumprido o papel da cultura pop BDSM, na minha nada modesta opinião. Kink 101- Na sua opinião, como os praticantes mais experientes podem auxiliar a grande quantidade de novos adeptos que tem surgido? L.V.- Tendo paciência e não se aproveitando da ingenuidade das pessoas. Isso tem me tirado do sério de verdade. O que tenho visto de gente que não merece nada do meu respeito (e isso é difícil, viu) orientando, mentorando e tutorando gente iniciante, não está sendo mole. Eu acho isso uma sacanagem, no pior sentido da palavra. Tu quer ser um crápula, um babaca, uma imbecil sem noção, ou mesmo alguém trapaceiro, seja 24 com alguém 'do teu tamanho'. Aliciar essas pessoas quando não se honra as próprias palavras é a mesma coisa que os pastores fazem nas igrejas quando levam até a roupa do corpo dos fieis em nome da fé. Os novatos só precisam de um Norte, de uma luz. O resto eles vão encontrar por si, cair, levantar até encontrar o que realmente gostam e querem. E ter alguém com quem eles possam contar seus segredos, que seja de confiança e não ria das suas lamúrias, é uma coisa legal a se fazer. Sei que BDSM não é caridade, porém há que se pensar sempre que o mundo dá muitas voltas. Já colhi muitas coisas boas, amizades verdadeiras, auxiliando assim como fui auxiliada no começo. Kink 101- Algumas pessoas tem certa descrença que o BDSM pode ser integrado ao dia a - dia de forma harmoniosa e equilibrada, quais dicas a Senhora daria para quem ainda tem receio de tentar uma relação D/s e SM? L.V.- Tudo depende, novamente, do quanto que se quer doar da vida para aquilo. O quanto tu quer empregar de tempo nessa relação, nessas vivências? Quem quer que seja um passa-tempo, vai fatalmente só esbarrar em gente que quer também passar o tempo. Quem quer viver trocando de perfil, fazendo mil fakes, marcando encontros e não aparecendo, espera colher algo verdadeiro ou que valha a pena? Se a pessoa é séria, realmente quer viver o BDSM, ela pode acreditar que vai encontrar alguém que queira viver isso com ela, seja de forma eventual ou permanente. Vai do acordo de ambos e das intenções ficarem claras, explícitas, desde o começo. Isso vale para grupos também. Na SAT, por exemplo, a pessoa que quer entrar precisa estar ciente que vai ter que se dedicar, que participar, que doar uma boa dose de energia para o coletivo. Meu conselho é sempre ser franco e dizer de cara o que já sabe que banca e o que não banca. Isso diminui uma série de problemas, evita desgastes e peneira a busca já no nível virtual. E é um erro a pessoa pensar que porque é sub deve fazer tudo que o top queira. Ninguém é obrigado a nada. E relacionamentos legais, duradouros, são relacionamentos onde ambos estão por prazer, completos e porque querem. Kink 101- O que a Senhora considera primordial para aqueles que estão descobrindo o BDSM e enveredando no mundo dos fetiches? L.V.- Ler muito, assistir filmes que remetam às ideias que norteiam o fetiche e o hedonismo, e, por fim, procurar por pessoas que possam aconselhá-lo de forma franca, segura, apontando sempre mais de um caminho, que não lhe dê possibilidades tacanhas nem tente tolher seus desejos. E se é isso que tu queres, mete a cara, te joga e não crie tantas