afins não desmerece o serviço
dessa literatura, mas também
não contribui para a evolução das
práticas BDSM no dia a dia.
O que perverte é o que faz pensar
a mente naturalmente libertina
e cada um possui um código que
só é acessível por uma linguagem
adequada ao seu universo
emocional e imagético, ou seja,
ao seu repertório. De que adianta
eu querer apresentar Verdi a quem
só ouve Munhoz e Mariano desde
criança? Pode adiantar sim! Assim
como não devemos entrar na onda
da alta e baixa cultura quando se
fala em música, porque a cada
um cabe a sua nota que arrepia,
também não devemos condenar
uma literatura mais simplória. Se
está fazendo mulheres e homens
felizes, está cumprido o papel
da cultura pop BDSM, na minha
nada modesta opinião.
Kink 101- Na sua opinião, como
os praticantes mais experientes
podem auxiliar a grande
quantidade de novos adeptos
que tem surgido?
L.V.- Tendo paciência e não se
aproveitando da ingenuidade das
pessoas. Isso tem me tirado do
sério de verdade. O que tenho visto
de gente que não merece nada
do meu respeito (e isso é difícil,
viu) orientando, mentorando e
tutorando gente iniciante, não
está sendo mole.
Eu acho isso uma sacanagem,
no pior sentido da palavra. Tu
quer ser um crápula, um babaca,
uma imbecil sem noção, ou
mesmo alguém trapaceiro, seja
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com alguém 'do teu tamanho'.
Aliciar essas pessoas quando não
se honra as próprias palavras é
a mesma coisa que os pastores
fazem nas igrejas quando levam
até a roupa do corpo dos fieis em
nome da fé.
Os novatos só precisam de um
Norte, de uma luz. O resto eles vão
encontrar por si, cair, levantar até
encontrar o que realmente gostam
e querem. E ter alguém com quem
eles possam contar seus segredos,
que seja de confiança e não ria das
suas lamúrias, é uma coisa legal
a se fazer. Sei que BDSM não é
caridade, porém há que se pensar
sempre que o mundo dá muitas
voltas. Já colhi muitas coisas boas,
amizades verdadeiras, auxiliando
assim como fui auxiliada no
começo.
Kink 101- Algumas pessoas tem
certa descrença que o BDSM
pode ser integrado ao dia a - dia de forma harmoniosa
e equilibrada, quais dicas
a Senhora daria para quem
ainda tem receio de tentar uma
relação D/s e SM?
L.V.- Tudo depende, novamente,
do quanto que se quer doar da
vida para aquilo. O quanto tu
quer empregar de tempo nessa
relação, nessas vivências? Quem
quer que seja um passa-tempo,
vai fatalmente só esbarrar em
gente que quer também passar
o tempo. Quem
quer viver
trocando de perfil, fazendo mil
fakes, marcando encontros e
não aparecendo, espera colher
algo verdadeiro ou que valha
a pena? Se a pessoa é séria,
realmente quer viver o BDSM, ela
pode acreditar que vai encontrar
alguém que queira viver isso com
ela, seja de forma eventual ou
permanente. Vai do acordo de
ambos e das intenções ficarem
claras, explícitas, desde o começo.
Isso vale para grupos também. Na
SAT, por exemplo, a pessoa que
quer entrar precisa estar ciente
que vai ter que se dedicar, que
participar, que doar uma boa
dose de energia para o coletivo.
Meu conselho é sempre ser franco
e dizer de cara o que já sabe que
banca e o que não banca. Isso
diminui uma série de problemas,
evita desgastes e peneira a busca
já no nível virtual.
E é um erro a pessoa pensar que
porque é sub deve fazer tudo que
o top queira. Ninguém é obrigado
a nada. E relacionamentos legais,
duradouros, são relacionamentos
onde ambos estão por prazer,
completos e porque querem.
Kink 101- O que a Senhora
considera primordial para
aqueles que estão descobrindo
o BDSM e enveredando no
mundo dos fetiches?
L.V.- Ler muito, assistir filmes que
remetam às ideias que norteiam o
fetiche e o hedonismo, e, por fim,
procurar por pessoas que possam
aconselhá-lo de forma franca,
segura, apontando sempre mais
de um caminho, que não lhe dê
possibilidades tacanhas nem
tente tolher seus desejos.
E se é isso que tu queres, mete
a cara, te joga e não crie tantas