Jornal Pontivírgula | Novembro | Page 19

Começamos a entrevista pelo início, o estado de saúde da música independente portuguesa. Segundo Sambado “estamos a viver um período de óptimas graças criativas”. E a verdade é que num período de pouco mais de dois anos assistimos ao florescimento de uma boa quantidade de artistas. Sambado lançou o primeiro de quatro discos sob a chancela da Valentim de Carvalho, com quem assinou recentemente. Luís Severo, Capitão Fausto ou Madrepaz confirmaram as certezas que já tínhamos. Nasceram MONDAY e April Marmara, duas vozes invulgares até no panorama internacional. E também Príncipe, projeto a solo do baterista dos Ciclo Preparatório. Entre muitos outros. Para Diogo Teixeira de Abreu, baterista dos Lotus Fever, “a música portuguesa está num ponto de qualidade nunca antes visto. Estamos a assistir a algo maravilhoso na música feita em Portugal”.

Bonança

Segundo Sambado, as raízes desta nova fome criativa estão no final dos anos 90. “Com o fim da ditadura houve a necessidade de percorrer as três décadas precedentes. Então tinhas bandas que faziam música dos 60, outras dos anos 70, outras dos 80. Depois, nos anos 90 houve uma desertificação de ideias. Ninguém queria saber dos cantautores portugueses. Até que aparece a editora Flor Caveira em 1999. E aí há um desbloqueio. De repente surgem gajos que não têm medo de cantar em português, de falar de vários temas e de cair no ridículo... despreocupadamente. Somos todos filhos desse arranque. Bebemos muito daí.” Sambado não duvida que hoje “está tudo muito mais fervilhante do que já foi” e uma das razões é um maior equilíbrio ao nível da criação. “Há mais malta com menos possibilidades a fazer música. Já não é uma coisa só para meninos ricos”, afirma.

REPORTAGEM

© Rita Coroado

© Teresa Castro