Jornal EcoEstudantil, n.º 31, maio 2018 26 Jornal maio 2018 | Page 33

CINEMA Baudelaire no filme O ódio, de Mathieu Kassovitz Reação à exposição de arte Por André Mestre 12.º A1 N O que é a arte pura? “É criar uma magia sugestiva, contendo a um só tempo o objeto e o sujeito, o mundo exterior ao artista e o próprio artista." Baudelaire C harles-Pierre Baude- laire foi poeta e teó- rico de arte. Nasceu a 9 de abril de 1821, em Paris, e faleceu a 31 de agosto de 1867, também em Paris. Teve uma vida atribulada: ex- pulso do colégio Real de Lyon, onde estudava; enviado para a Índia pelo padrasto, sem nunca lá ter chegado, acaba retido na Ilha da Reunião. Regressa uns anos depois a Paris. Quando atinge a maioridade, toma posse da herança do pai. Durante os dois anos seguintes, a vida de Baudelaire foi um caos, vivendo de drogas e álcool. Em 1844, a mãe entra com um pro- cesso judicial contra ele, fazendo a herança do pai ser controlada por um notário. Em 1857, lança As flores do mal. São 100 poemas. Acusado de ultrajar a moral pública, com seis poemas desse livro, teve de pagar uma multa de 300 francos. Mais tarde, volta a reescrever esses poemas considerando-os “ainda mais belos”. A editora também foi multada. Por Iara Gago, 12.º A1 Baudelaire no filme O Ódio O livro publicado por Baudelai- re é um marco importante na his- tória da poesia simbólica moder- na. Está dividido em seis partes: a morte, a revolta, as flores do mal, o vinho, quadros parisienses, té- dio e ideal. Fala das mudanças ocorridas em Paris, mais propria- mente nos subúrbios de Paris. Também sugere a importância de uma revolta militar para acabar com os preconceitos produzidos por essas mudanças. O filme O Ódio fala sobre o preconceito, a dificuldade na inte- gração das pessoas dos subúrbios de Paris e as revoltas. Retrata a difícil vida, ou seja, as mudanças de que Baudelaire falou nos seus poemas. Não será um acaso Mathieu Kassovitz o integrar fil- mando uma enorme parede do bairro onde Baudelaire está pinta- do. o filme O Ódio, de Mathieu Kasso- vitz, pude observar que quando os três jovens se de- param com arte conceptual, que valoriza a ideia por detrás da obra em vez do produto acabado (ao qual estamos expostos), os mes- mos perguntam se o que está em exposição se pode considerar arte. Ouvimos comentários tanto ne- gativos como de espanto. O mes- mo se poderá dizer das suas ex- pressões faciais, que mostravam admiração, revolta e estranheza, visto que moram em bairros po- bres e são alvo de comentários racistas. Talvez por isso os jovens interpretam esta “realidade” de forma bastante genuína. Alguns minutos depois, obser- va-se os jovens a passarem por uma escultura, em que chegam a entrar em contacto físico com a mesma, mas, por estranho que nos pareça, não se dão conta da existência dela. Saliente-se também o facto de estes jovens se cruzarem com um anúncio da NIKE/ADIDAS, onde está escrito: “O mundo é vosso”. Ficam tocados com aquele anún- cio de tal forma que com uma lata de spray riscam a palavra “vosso” para “nosso”. Na minha opinião, os jovens interagem mais positivamente com o anúncio do que com a arte conceptual, pois aquele tipo de anúncios é a sua realidade, en- quanto a arte conceptual os tira da sua zona de conforto. Página 33