Jornal EcoEstudantil, n.º 31, maio 2018 26 Jornal maio 2018 | Page 19
eco dos espaços
Saramago:
“Ver o tempo de ontem com os olhos de hoje”
Por Mariana Rodrigues, 12.º E
N
o dia 16
de abril, decorreu
no Auditório da
Escola uma pales-
tra, no âmbito da disciplina de
Português, dirigida aos alunos
do 12.º ano, já que o tema, “O
ano da morte de Ricardo Reis:
a indiferença histórica e a in-
venção da memória e da pro-
messa”, tem que ver com uma
obra de José Saramago que
estamos a ler e a estudar. Esta
atividade realizou-se por inici-
ativa da Biblioteca ESJAC, em
cooperação com o Grupo Dis-
ciplinar de Português, que re-
quisitou uma das palestras ofe-
recidas pela UAlg.
A palestra foi proferida pela
Professora Auxiliar da Univer-
sidade do Algarve, Doutora
em Literatura e Cultura Portu-
guesas, Carina Infante do Car-
mo. A mesma tinha por objeti-
vo dar a conhecer o romance
de José Saramago, O ano da
morte de Ricardo Reis, focan-
do: “A figuração de Portugal
de 1936 na relação entre ficção
e História”, “O dialogismo iró-
nico do narrador” e “Os cru-
zamentos intertextuais com
Pessoa, Cesário e Camões.”
O romance histórico tem, a
partir da segunda metade do
século XX, um novo retomar
por o romance ter de reconsti-
tuir a História e o passado.
Saramago considera que o
passado é um tempo a ser
questionado e resgatado pela
História e pela Literatura e, no
pós-25 de abril, a liberdade do
escritor é total. Situa os seus
romances num tempo histórico
preciso, no caso de O Ano da
Morte de Ricardo Reis, de de-
zembro de 1935 a setembro de
1936. Introduz factos históricos
e personagens de ficção. É desse
confronto entre o real e o imagi-
nário que Saramago extrairá
uma nova maneira de ver, ouvir
e escrever. Por isso, foram-nos
apresentadas as capas de vários
livros de José Saramago, como,
por exemplo, Levantando do
chão (1980); Memorial do con-
vento (1982) e O ano da morte
de Ricardo Reis (1984). Segui-
damente, a Professora focou a
Revolução de 25 de abril de
1974 e mostrou fotografias desse
período, tendo destacado os fo-
tojornalistas Eduardo Cageiro e
Alfredo Cunha. Deu exemplos
de outros autores que, também
após a instauração da democra-
cia, resolveram contar a história
de outra maneira, já que a Histó-
ria é sempre uma construção,
como foi o caso de Alice Vieira
com a obra, A Espada do rei
Afonso (1981).
De seguida, a Professora Ca-
rina Carmo leu vários excertos
do romance, chamou a atenção
para a intertextualidade com Ca-
mões e com as odes de Ricardo
Reis, nomeadamente a que in-
clui “dois jogadores de xa-
drez” [“Ouvi contar que outro-
ra”] e a sua indiferença perante a
guerra, tendo feito uma articula-
ção com a situação atual da
Guerra na Síria e projetado uma
citação da obra que muito me
chamou a atenção:
“[…] é que as verdades são mui-
tas e estão umas contra as outras,
enquanto não lutarem não se sabe-
rá onde está a mentira […].”.
Complexidade
da natureza humana
Por Matilde Falcão, 12.º E
No seu conto “George”, Ma-
ria Judite de Carvalho conjuga a
metamorfose da figura humana
(especificamente, a feminina)
com a complexidade da nature-
za humana.
Ao longo do conto, as várias
metamorfoses subversivas de
George (impossíveis em Gi,
involuntárias em Georgina) re-
velam a conturbação de um es-
pírito incoerente que se tenta
esconder do tempo. George mu-
da-se fisicamente para se desa-
marrar de um passado cunhado
em si, e por vaidade salva ape-
nas uma foto da jovem Gi, indi-
ciando que se quer recordar jo-
vem, sempre jovem.
A grande questão que surge
em “George” é: até quando po-
derá ser arbitrária a mudança
física, quão efémero é o corpo?
Gi não se pode subverter desse
modo, reprimida pelos padrões
provincianos; já George pensa-
se dona do seu presente, do seu
passado e do seu futuro; no en-
tanto, Georgina aparece-nos
conformada com o poder do
tempo.
Através desta trindade de uma
mesma personagem, é conse-
guido o confronto de diferentes
perspetivas da mesma vida pela
Artigo orientado pela professora de Portu-
guês, Ana Cristina Matias
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