Jornal ECOESTUDANTIL jan. 2016 n.º 26 | Page 19

HISTÓRIA Tradições natalícias Por Tomás Bravo, 11.º B H oje, os presépios do Algarve são conhecidos e admirados por todo o país, à semelhança dos madeirenses ou dos de Estremoz. Mas, para perceber ainda melhor as suas origens, é necessário recuar às origens do Natal. Só a partir do séc. XII, e através de São Bernardo, que incentiva a “devoção ao menino” pelo povo, o Natal começa a ser celebrado enquanto “festa popular”, uma vez que até aí apenas era comemorado como festa litúrgica do nascimento de Jesus. Anos mais tarde, aliada a esta “ampliação” da festa natalícia, vai nascer a tradição de se “montar” o presépio. A representação do nascimento de Jesus junto da Virgem e de São José num estábulo ou numa gruta vai espalharse, mas apenas nas casas mais ricas, nas igrejas e nos mosteiros. Em Portugal, só por volta dos séculos XV e XVI é que o “presépio” começa a ser “armado”. Aqui no Algarve, o presépio mais típico talvez seja dos mais antigos de todo o país, devido às suas características que remontam à época medieval. O menino Jesus é representado num trono em escadinhas, o que realça a sua importância e o seu poder, pois, de facto, era ele o redentor e o salvador para todos os que nele tinham forte devoção. Em baixo, nos degraus do seu trono, eram colocados os produtos de sustento dos Biblioteca DPCC algarvios, dos quais chegam até hoje as laranjinhas, produto da época, e as searinhas, que representavam a primeira seara nascida nos campos e que depois de crescer se ia tornar no trigo, pilar fundamental da dieta. Outro tipo de presépio comum, e aquele que mais se encontra no Natal dos portugueses, é um presépio de inúmeras figuras de barro dispostas entre musgo, pedrinhas e areia que querem representar Belém, lugar onde Cristo nasceu. Porém, essa representação de Belém nem sempre se tornou a mais real, pois foi-se-lhe acrescentando um pouco do dia-a-dia quotidiano das aldeias portuguesas, inserindo-lhe figuras como as lavadeiras, o fogueteiro, os lavradores, ranchos folclóricos, bandas musicais e até procissões, como se vê nos presépios dos Açores e da Madeira. Assim, a tradição de montar o presépio foi crescendo até se tornar naquela que é hoje. Aliada à tradição do presépio, há também outras tradições, nas diferentes regiões do país. Os hábitos alimentares da ceia de Natal variam de região para região. Aqui na zona de Tavira, os mais populares doces da ceia de natal são as filhós com mel, as empanadilhas de batata-doce e os bolinhóis, que, segundo alguns testemunhos orais, “eram mais os doces do dia de Reis”, enquanto no dia e véspera de Natal havia a tradição de se comerem outros doces, como o bolo mimoso, o pudim de mel ou os Dom Rodrigos. Hoje, é imprescindível na mesa de natal de qualquer português o bolo-rei e as broas (“castelares”), o resto vem por acréscimo dos hábitos e tradições da região. Para a zona da serra, existe também o hábito de nesta altura se confecionarem as “popias” fritas ou no forno, com açúcar ou calda de mel, ou ainda as filhós de forma ou sonhos a que chamamos “fritos de Natal”. Alia- Biblioteca ESJAC dos a um ciclo das festas de inverno, iniciados com o dia de todos os santos (1 de novembro), estes doces vão ser os que acompanham as “festas”, nomeadamente Natal, Ano Novo e Dia de Reis, estando também presentes em outras ocasiões, como as matanças do porco ou as festas dos padroeiros (por exemplo, Festa de Santa Catarina e São Luís - 24 de novembro – na freguesia do mesmo nome, e Festa de Santo Estevão – 26 de dezembro – em Cachopo). Para terminar, gostava de lembrar a tradição algarvia de se cantar as “charolas” para saudar o “ano bom”. Entre o dia de Ano Novo e o Dia de Reis, grupos andam pelas ruas a cantar e a tocar. A tradição dizia que quem estava em casa dava sempre “alguma coisa” para o pessoal das charolas que andava de um lado para o outro a cantarolar. Mais uma vez, havia uma mesa de doces, fritos, pão e enchidos para oferecer a quem cantava as janeiras. Todas estas são tradições que fazem parte do espírito da dieta mediterrânica, aliado ao convívio e à época do ano em que se inserem, que todos nós temos a obrigação de preservar! Página 19