Jornal ECOESTUDANTIL jan. 2016 n.º 26 | Page 18

HISTÓRIA

Destruição de um obus , 1925 Um dos sete quadros que Adriano Sousa Lopes ( 1879-1944 ) realizou para o Museu Militar , entre1920 / 30 , sobre a participação portuguesa na Grande Guerra
A Rendição ( pormenor ), terminada em 1923 . É uma obra chave , que faz a síntese do pintor em França , confrontado com a dura realidade que o CEP vivia no sector português . Não há aqui nenhum feito glorioso que inicialmente planeara registar , mas apenas o quotidiano trágico destes soldados camponeses , que caminham exaustos e curvados sob o peso das mochilas e dos mantimentos . tamente adequados aos serviços de propaganda do Ministério da Guerra . O pintor comprometia-se a organizar um álbum com retratos de militares e de episódios do Exército em campanha , e a realizar uma série de pinturas inspiradas nos feitos mais gloriosos do CEP , tendo o Estado no futuro direito de opção na compra .
Após a sua nomeação , parte rapidamente para França , onde chega em finais de setembro .
A realidade da frente portuguesa era muito diferente do que imaginara . O quartel-general em Saint- Venant estava informado da sua chegada , mas não lhe dava as mínimas condições para desenvolver o seu plano . Nos primeiros meses , consegue reunir alguns apontamentos paisagísticos e da instrução militar . Mas era preciso ir para a frente , ver aqueles soldados em ação no terreno .
André Brun ( 1881-1926 ), conhecido escritor humorista , encontrou nesses dias o pintor numa aldeia da retaguarda , e registou a sua impressão : “ Vivia meio esquecido e semiabandonado . Quando tanto inútil tinha um automóvel para passear a felpa dos sobretudos ingleses , Sousa Lopes tinha que esperar que um dia uma viatura menos carregada o pudesse transportar ", escreve no seu admirável relato A Malta das Trincheiras ( 1919 ), " Quando o vi em Dezembro do ano passado , não excedera ainda a linha das escolas e o seu álbum de apontamentos apenas continha esboços sem maior interesse para ele nem para a sua obra ."
Em janeiro de 1918 , o artista decide arriscar-se diretamente nos sectores da frente , pedindo hospedagem por uns dias , aos comandantes que defendiam as trincheiras da primeira linha . A decisão surte efeito imediato .
Após o Armistício , Sousa Lopes é agraciado com o grau de cavaleiro de Santiago de
Página 18 Espada , juntamente com o fotógrafo oficial do CEP , Arnaldo Garcez ( 1885-1964 ). Em 1919 , começa a abrir uma série de gravuras a água-forte sobre a experiência de guerra , apresentando algumas no Salão de Paris desse ano .
O conjunto de águas – fortes e pinturas sobre a participação portuguesa na guerra formam um con- junto sem igual na arte portuguesa de novecentos , que no seu tempo suscitou grande admiração . António Ferro , vendo a exposição de 1927 , escreveu que , na sombra da trincheira , o pintor descobrira " a lama e as estrelas ", considerando-o decididamente um dos maiores pintores da guerra .