Jornal do Clube de Engenharia 583 (Outubro de 2017) | Page 4

www.clubedeengenharia.org.br ENERGIA Momento é crítico e provoca reação imediata e contundente Avanço das privatizações no Sistema Eletrobras coloca em risco caráter social da energia no Brasil “Água e energia não são mercadoria”. Essa foi a afirmação que permeou as falas dos palestrantes do seminário “O Novo Marco Regulatório do Setor Elétrico e a Privatização da Eletrobras”, que aconteceu no dia 21 de setembro no auditório de 25º andar do Clube de Engenharia. Além de lembrarem o importante caráter social desses serviços – inscritos na Constituição como de utilidade pública –, as palavras são também uma afirmação contrária a uma das principais agendas do governo federal: as privatizações no Sistema Eletrobras. A crítica se sustenta técnica, econômica e politicamente em dados e comparativos, restando difícil entender a que interesses atende a venda do sistema elétrico nacional. Para falar do assunto, o seminário reuniu Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia; Luiz Pinguelli, diretor de Relações Institucionais da COPPE/UFRJ; Ronaldo Bicalho, do Instituto de Economia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IEI/UFRJ) e Instituto Ilumina; Glauber Braga, deputado federal (PSOL/RJ) e Gustavo Teixeira, do Dieese. “Essa é uma luta que tem por fim garantir a segurança do sistema elétrico em benefício da nossa sociedade, do nosso desenvolvimento como serviço de utilidade pública. Não importa saber se a propriedade é estatal ou privada, mas a quem serve essa propriedade”, destacou Celestino, ao abrir o seminário. 4 O presidente do Clube lembrou a experiência histórica a partir da qual é possível traçar paralelos para Especialistas trouxeram dados que atestam o caráter político do discurso de privatização do setor. o debate entre os serviços público e privado no setor elétrico. Na década de 1950, a Brazilian Light and Power, privada e estrangeira, que controlava a energia elétrica de Rio de Janeiro e São Paulo, mantinha o Rio em sistema a 50 Hertz e São Paulo a 60 Hertz para que não se comunicassem. Assim, impedia a distribuição de energia em dois sentidos, abrindo mão da eficiência pelo controle. Na mesma década de 1950, nascia o sistema interligado nacional, Temos um sistema elétrico robusto, interligado, de características únicas no mundo que permite justamente atingir a transmissão de energia em todo o país, um dos maiores projetos nacionais, e que nunca esteve tão ameaçado. “Temos um sistema elétrico robusto, interligado, de características únicas no mundo, dadas as dimensões continentais do nosso território, com regimes hidrológicos distintos, possibilitando que transmitamos energia de norte a sul. No momento que esse sistema for fatiado e privatizado, perderemos essa característica que é única no mundo inteiro. É um atentado à nossa soberania, à nossa sobrevivência. É por isso que a Eletrobras precisa ficar nas mãos do Estado, bem como o planejamento nacional do setor”, defendeu Pedro. O posicionamento do Clube de Engenharia pode ser lido em http:// bit.ly/posicionamento_seb Falácia financeira O plano do governo de privatizar – entre outros bens públicos – o setor elétrico tem como base argumentos que não se sustentam como realistas. Um deles, o que encontra eco em parte da sociedade civil – desinformada ou mal informada pela mídia de massa –, é a suposta ineficiência financeira. Luiz Pinguelli questiona essa ideia. “No critério usual a eficiência é medida não pelo que serve ao público em geral, mas sim pelo que serve aos acionistas, com o pagamento de dividendos”, criticou ele. A experiência internacional aponta para o inverso da crença de que estatais representam apenas prejuízos financeiros. “França e Canadá possuem grandes empresas públicas do setor elétrico. Mesmo nos Estados Unidos, que costuma ser visto como um país dominado pelo mercado privado, tem usinas hidrelétricas estatais e jamais houve transferência de propriedade pública para o setor privado. Nunca se privatizou coisa alguma nos EUA, entre outras coisas porque o sistema jurídico coloca obstáculos a isso”, ressaltou o professor Pinguelli. Os números do Dieese, trazidos por Gustavo Teixeira, mostraram que a reforma permitirá que os custos da energia elétrica variem no curto prazo. Ele lembrou que o impacto na economia é grande, uma vez que o preço da energia elétrica é importante para a definição do índice de inflação geral, podendo impactar negativamente a política monetár