Gilberto Candido
Fariam uma inseparável dupla de sucesso tipo: Mandela e Tutu,
arroz com feijão, café com leite...
O Wanderlei saía de manhãzinha do hotel e retornava após
o pôr do sol, sempre junto com Vênus à Noroeste. Ambos brilhavam como a primeira grande estrela a dar o ar de sua graça
nos céus daquele outono. O Wanderlei pedia uma “ampola” e
ficava a contar-nos o seu dia, com o seu jeito peculiar, sempre
regado de muito bom humor.
Numa dessas noitinhas, ele pediu a sua ampola para o
mensageiro, novato, que não conhecia muito bem os seus
hábitos e me perguntou:
— Onde eu pego a ampola dele?
— Na geladeira.
Logo ele voltou:
— Não tem nada lá.
— Deve ter acabado. Então, pegue no freezer.
Logo ele voltou. Outra vez, de mãos vazias.
— Lá, também, não tem nada.
— Não?! Não é possível. Claro que tem!
Fomos até lá, os dois, e peguei uma garrafa de brahma.
E o mensageiro:
— Ah, pensei que fosse uma injeção pra aplicar nas veias.
— E é. Só que ele aplica via oral. Daí percorre as veias e
sobe pra cabeça.
Acho que essa é a única diferença entre o Marcão e o
Wanderlei. O Marcão diz que não bebe. Só come.
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