Gilberto Candido
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Entre esses amigos aí, os que não poderiam faltar eram
os noveleiros. Assistir novelas, para uns, era um sacerdócio.
Uma das novelas que agitava essa galera naquela ocasião era
uma que — nem me recordo mais o nome — era protagonizada
pelo Humberto Martins que contracenava com a Viviane
Pasmanter. O Humberto era um peão de montaria, dos bons. A
Viviane era a mocinha apaixonada, casada com o Humberto, e
que ficava em casa triste, carente e fiel — só em novelas
mesmo! — a espera do marido que vivia mais preocupado com
os bois e os cavalos da fazenda e dos rodeios, que com os
carinhos que andava negando pra mulher mal-amada. Os
noveleiros não se conformavam vendo tamanho sofrimento da
moça. Diziam que o Humberto era muito ruim, mas tão ruim
que chegava a ser bom. E devia ser muito bom mesmo. Ele era
mais um, entre tantos atores, que fazia o público noveleiro
confundir, ignorantemente, o personagem com o Humberto da
vida real.
Eis que, depois de mais um dia de intensa dedicação aos
animais o (ator) Humberto aparece em casa, e a mocinha
Viviane se derrete toda, recebendo-o com beijos e abraços. Eles
vão para a cama, se deitam lado a lado e, na hora do thiathiaca
na buthiaca ele se vira para o lado, diz que está muito cansado,
dispensa a sua fogosa esposa e dorme. Fiquei sabendo naquela
mesma noite que aquilo foi a gota d'água: um deles me disse que
um dos amigos telespectadores, torcendo pela felicidade da
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