Joias Hotel Joias Hotel | Page 86

Gilberto Candido ——: —— Entre esses amigos aí, os que não poderiam faltar eram os noveleiros. Assistir novelas, para uns, era um sacerdócio. Uma das novelas que agitava essa galera naquela ocasião era uma que — nem me recordo mais o nome — era protagonizada pelo Humberto Martins que contracenava com a Viviane Pasmanter. O Humberto era um peão de montaria, dos bons. A Viviane era a mocinha apaixonada, casada com o Humberto, e que ficava em casa triste, carente e fiel — só em novelas mesmo! — a espera do marido que vivia mais preocupado com os bois e os cavalos da fazenda e dos rodeios, que com os carinhos que andava negando pra mulher mal-amada. Os noveleiros não se conformavam vendo tamanho sofrimento da moça. Diziam que o Humberto era muito ruim, mas tão ruim que chegava a ser bom. E devia ser muito bom mesmo. Ele era mais um, entre tantos atores, que fazia o público noveleiro confundir, ignorantemente, o personagem com o Humberto da vida real. Eis que, depois de mais um dia de intensa dedicação aos animais o (ator) Humberto aparece em casa, e a mocinha Viviane se derrete toda, recebendo-o com beijos e abraços. Eles vão para a cama, se deitam lado a lado e, na hora do thiathiaca na buthiaca ele se vira para o lado, diz que está muito cansado, dispensa a sua fogosa esposa e dorme. Fiquei sabendo naquela mesma noite que aquilo foi a gota d'água: um deles me disse que um dos amigos telespectadores, torcendo pela felicidade da 86