Gilberto Candido
— A minha irmã é muito perrengue — alfinetou o matuto
— diz que tem problema na coluna e não pode carregar peso.
Tudo mentira. Ela pensa que eu sou empregado dela e vive
querendo tacá na minha bunda, principalmente quando ela tá de
chico. Mas eu procuro sempre ficar esperto e ando tirando o
meu da reta.
Contou ainda que a mala dela, além de ser imensa, estava
abarrotada de pronta-entregas de folheados. E que eram sócios,
mas que a sociedade estava capengando. Ele queria mesmo era
investir a parte do seu dinheiro em produtos agrícolas.
Ele deu uma olhada de lado, fazendo menção de que não
entendia muito bem o porquê de o mensageiro se divertir tanto
com a sua história, e deve ter achado que o mesmo caçoava da
sua cara. Ajeitou o chapéu na cabeça, passou as costas da mão
pela boca cheia d'água, e deixou um recado antes de sair:
— Se ela perguntar por mim, diz que fui ali comprar uns
queijos meia cura e não demoro.
Entrou no bar ao lado e logo já estava de volta — sem os
queijos.
Também, pudera! Qualquer apreciador de uma boa
caninha já deveria saber que não se acharia queijo meia cura pra
comprar num boteco qualquer por ali.
——: ——
E como diz o Rolando Boldrin: “Um causo puxa o
outro”.
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