Joias Hotel Joias Hotel | Page 80

Gilberto Candido les bem dados nas suas partes baixas que o pobre Aquiles caiu, deitou, rolou, gemeu de tanta dor, agonizando até a morte. Fiquei impressionado com a bengala que o Toninho apoiava — como se ele tivesse uma perna mais curta que a outra — e pensei em dar uma rasteira nela; assim, meio que sem querer, só pra ver se aquele apoio era realmente necessário, ou só uma frescura do Toninho que preza muito pela elegância, assim como preza pelos amigos, como o Gilberto Candido, por exemplo. Seria sacanagem de minha parte tentar derrubar o cara. Ainda mais que fui aos poucos relembrando fatos e caí na real. O Toninho era policial. Estava à paisana. Licenciado. E uma rasteira na sua bengala poderia me implicar numa voz de prisão ali mesmo. Brincadeira, Toninho! Tudo isso foi só pra dizer que naquele dia, você e a sua bengala me fizeram lembrar um cara, consultor de semijoias e acessórios, que trabalhava no grupo que administrava um hotel, e vivia esquecendo coisas. Tinha dias que ele subia para o apartamento e esquecia a maleta dele bem no meio do saguão. Noutro, ele esquecia onde havia deixado o carro e, num outro dia ele esqueceu que era segunda; pensou que fosse domingo e não foi trabalhar. Esquisito mesmo foi um dia que ele chegou no hotel apoiando-se numa bengala e dizendo que havia torcido o pé. Esparramou-se na poltrona, leu todos os jornais e depois subiu. Esqueceu a bengala, esqueceu de mancar e esqueceu que havia nos mentido que tinha torcido o pé. 80