Joias Hotel
correndo, por paralelas, pra escapar da Via Crucis do calvário,
evitando ser pisoteado pela multidão ensandecida que, aos seus
calcanhares, estaria correndo ávida pra ter um autógrafo, um fio
da sua barba ou um retalho da sua roupa. As adolescentes, na
comissão de frente, gritariam: “Lindo, lindo!”. Seguidas pelos
paparazzi e os repórteres que, abusando dos conhecidíssimos
dotes proféticos e infinita sabedoria do perseguido,
perguntariam: “O Brasil tem jeito? Existem mesmo vidas
extraterrestres? Quando o mundo irá acabar? Há vida após a
morte?”
Temendo pela própria segurança, ele iria desaparecer sem
ter dado, ao menos, um “olá” ao vivo para o mundo, em
português, latim, aramaico, ou qualquer um outro idioma — já
que a humanidade teria a certeza de seu extremo domínio sobre
qualquer língua universal.
Rapidamente, milhões de comunidades seriam criadas nos
sites de relacionamentos pelos analfabetos internautas: “ge zuz
helle voutow “ “Jezús. O pope estar”.
Sem os reis magos, os atuais reis de plantão não perderiam
a chance de aparecer pregando as célebres frases: “São muitas
emoções, bicho! Jesus Cristo, eu estou aqui”. E o outro: “Realmente, o meu milésimo gol, eu dedico a ele, entende?”
Passava das 22h quando o Jesus desceu — de elevador.
Como sempre, caminhando vagarosamente, ele continuava com
o olhar distante, como se estivesse orando. Devia estar
agradecendo aos céus por estar em paz num hotel onde ninguém
reparava na sua humilde personalidade e nem desconfiava que
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