Gilberto Candido
JESUS CONTEMPORÂNEO
No registro de hóspedes do hotel, encontrávamos
sobrenomes que tinha tudo a ver com a pessoa. Tinha um
advogado que o sobrenome dele era “Calza”. Tinha um que se
vestia mal pra burro, e o seu sobrenome era “Quadrado”. Achei
interessante uma professora que assinava “Lecione” no seu
sobrenome. Tinha uma outra mulher de sobrenome “Pinto”
que... Bem, deixa pra lá. Porém, nada mais interessante que um
hóspede que não tinha nada a ver com o seu sobrenome, mas o
seu nome era bem sugestivo, devido ao seu popular semblante.
Ele se chamava Jesus e comercializava adereços religiosos
banhados à ouro três milésimos. Os seus cabelos nem eram tão
longos assim. Mas, a barba quase ruiva e os olhos claros
combinavam com o seu jeito sereno e olhar distante. Os únicos
detalhes que não combinavam, com os seus gestos e com o seu
nome, eram a sua baixa estatura e a barriga avantajada, que
deduravam o cara, expondo que ele era um voraz simpatizante
da gula e membro fervoroso do sedentarismo. Contudo, apesar
disso aí, ele era um homem de sorte. Já imaginou se nestes
tempos atuais, de internet banda larga e TV em alta definição,
algum funcionário do hotel resolvesse vazar com essas
informações? “Jesus voltou. E está hospedado aqui. É sério. A
cara e os gestos não negam. E as autenticidades dos seus dados
estão confirmadas no seu RG, CPF, e no dia de seu aniversário”.
A tecnologia voluntária faria a notícia correr mundo,
simultaneamente. O pobre Jesus contemporâneo teria que sair
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