Gilberto Candido
Eu estava sem a mínima condição vegetal de me concentrar em rúcula, alcachofra, chicória ou couve-flor, naquele momento. Mandei que ela fosse... num restaurante mais próximo
dali. Lá, com certeza, iria encontrar um buffet tão abastecido
quanto às bancas de hortaliças da Ceasa.
— Mas, esse restaurante é exclusivamente vegetariano? —
ela insistiu.
— Não. Lá tem carnes também. Mas, tem um bom self
service apenas de iguarias vegetarianas. Vai lá. Você vai gostar!
— Não posso nem sentir o cheiro de carnes — ela me contrariou. — Ouvi dizer que tem um restaurante especializado aqui
perto. Tão natural que só serve orgânicos!
Deu-me vontade de dar-lhe o endereço da minha casa e
levá-la pra comer na minha horta. Tudo por uma simples
questão de prestatividade.
Dez em ponto. E o auditor apareceu, tirando caspas dos
ombros, e deu a devida boa atenção que a moça merecia.
Fizemos a transferência de turno e saí apressado,
teleguiado pelo aroma de boi e frango na brasa regado a batepapos e garotas — que ficavam facinhas depois de uma simples
rodada de caipiroska com cerveja Skol.
Fui imaginando em como seria interessante se eu pudesse
ver aquela coisinha tão meiga, que era aquela hóspede, nos
fundos da minha horta, mordendo um pepino, uma cenoura ou
uma berinjela in natura com aquela sua boquinha incitante de
Sandra Bullock, que só ela sabia imitar.
72