Inominável Nº 4 | Page 31

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Nº 4 - Junho, 2016

Todos os géneros literários vão bem com o Verão. Um bom policial vai bem em qualquer lugar, a trama intensa e compulsiva obriga à leitura atenta e nem as brincadeiras das crianças na praia ou na piscina distraem o leitor. Problema: se as ditas crianças estiverem ao vosso cuidado, convém levar alguém para ajudar a tomar conta, de preferência alguém que não seja viciado em livros, vá. E atenção ao sol, muitas páginas sem aplicar protector solar dão direito a escaldão, já para não falar da marca do livro nas pernas. Hilariante, no mínimo. A cereja no topo do bolo dos dias de praia de um leitor compulsivo.

Mas o melhor das férias são as viagens, as que fazemos pelos nossos pés e as que fazemos para dentro dos livros. O ideal é associar as duas.

Gosto de me deslocar de carro, não necessariamente de conduzir, mas da liberdade que o carro dá para descobrir locais remotos (enfim, locais verdadeiramente remotos não será de carro, mas é um meio de transporte que permite personalizar bastante uma viagem), fugir para locais mais calmos, fazer quilómetros para longe da confusão. E para que havemos de querer sair da confusão? Ora, para ler em paz, claro!

Durante muito tempo perdi horas de leitura por enjoar no carro. Era uma situação que me deixava muito frustrada, ver o tempo a passar, desperdiçado sem ler uma linha. Fui fazendo algumas tentativas para contrariar essa condição, sendo que na maior parte das vezes as letras começavam a bailar diante dos meus olhos, confundindo-me. A agonia obrigava-me sempre a fechar o livro, frustrada. Mas nunca desisti. Não me conformava em passar horas de carro em que a paisagem, sempre igual, não era mais do que o cenário para chegar ao destino. Um dia decidi que iria conseguir ler no carro sem ser apanhada pelo enjoo. Meti na cabeça, pronto! E fiz as primeiras tentativas com concentração e determinação. O truque é olhar o livro, apenas e só o livro como se não houvesse mais nada em redor (não é difícil). Convém não levantar os olhos subitamente, nem fazer movimentos bruscos. Já o faço há algum tempo, apenas em autoestrada é certo, e as letras têm ficado no seu lugar. No fim da viagem posso fazer a média das páginas por quilómetro, mas só por brincadeira, porque o que importa mesmo é que li, poucas ou muitas páginas, o tempo foi utilizado no que mais gosto de fazer.

Estou a adiar a escolha do género de livros mais adequados às férias desde o início do texto. Não vale a pena contrariar a tendência natural de querer ler tudo, logo, não consigo definir um “estilo férias”, ou o tipo de livro que vai bem com o Verão. Os livros vão bem com pessoas e com o que lhes apetece ler na altura. Muito bonito, não é? Pois é, mas a questão é que, para mim, o “estilo férias” não existe, e sou uma desgraça a fazer o planeamento das leituras. Se assim não fosse não me acontecia, sempre que vou para fora, querer ler os livros que ficaram em casa. Uma mania que me dá cabo dos nervos. E depois acabo por ler os livros que levei, sempre a pensar nos que me esperam no regresso. Não é fácil para um viciado em livros ficar muito tempo longe da sua biblioteca.

Desde que tenho o e-reader e posso levar vários e-books comigo, este problema foi atenuado, pois tenho sempre muito por onde escolher, e não corro o risco de ficar sem nada para ler a meio das férias caso o ritmo de leitura seja superior ao planeado. Mas a verdade é que é tudo muito teórico, na prática quero sempre ler aquele livro que ficou em casa, no seu lugar da estante.

Sofro muito com saudades dos meus livros, confesso. Adoro viajar e ainda bem, caso contrário passava as férias enfiada em casa a ler, era certinho.