Poderia,
claro que poderia
conceder-me, de quando em quando,
a textura suavíssima da seda,
o rebuscado colorido da cauda do pavão,
o verso liquefeito nos preciosíssimos licores
que nunca chegam
aos lábios de quem moireja a terra
onde o chão pouco mais oferece
do que a haste sequiosa
das altivas torgas...
Poderia,
poderia sim,
procurar na gratificação pessoal,
a doce anestesia do ópio,
o requinte da fragrância mais rara,
o aplauso ocasional e gratuito,
o beijo fácil da simpatia caritativa,
o brilho do néon
que ofusca a borboleta
e invariavelmente queima
quantas asas germinem nos casulos...
Poderia,
sei que poderia,
adornar-me de pérolas, topázios e diamantes,
Mas... por que o faria
quando um seixo rolado
se me afigura infinitamente mais belo?
Post scriptum;
Quem me compra
este dilúvio de (in)certezas
por um punhado de versos rolados?
POST SCRIPTUM
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Nº 3 - Abril, 2016