Inominável Nº 3 | Page 15

M: Grande parte das tuas atuações contou somente com a tua voz e uma guitarra, num registo por vezes muito semelhante, ao contrário de alguns colegas teus, que tiveram direito a coreografias elaboradas e mostraram a sua habilidade não só para o canto, como também para a dança, e em diferentes estilos musicais. Consideras que poderias ter mostrado mais a tua versatilidade enquanto artista e potencial “Ídolo de Portugal”?

J: Se estamos a falar de versatilidade musical acho que consegui prová-la em parte no “Ídolos”. Fui de Arctic Monkeys a George Michael, de Miguel Araújo a Robin Thicke, de Michael Jackson a Tracy Chapman, de Virgem Suta a Alanis Morissette, entre outros, e isto tudo no espaço duma semana entre elas ou por vezes no espaço de horas. Há sempre parte de mim que sente que podia ter feito mais, mas no geral fiquei muito satisfeito com a quantidade de vertentes, minhas, que pude mostrar.

Depois há que ter em conta que a minha participação foi com o intuito de colocar em frente o “músico”, acima de tudo. Para mim era isso que estava a faltar um pouco ao formato. Ir na linha da típica estrela pop americana era uma hipótese e podia-a ter seguido se quisesse, mas não me parecia realista à luz do panorama musical que hoje testemunhamos em Portugal e da música que eu próprio oiço. Tocar guitarra enquanto canto, por exemplo, é das maneiras em que melhor consigo expressar essa ideia, porque apesar de não me considerar um guitarrista brilhante (nem de perto nem de longe) sou muito rítmico e o que faço em palco com a guitarra é muito intuitivo e imediato. Fico mais ativo na canção, sinto segurança e controlo. Posso dizer que ter colaborado e aprendido o que aprendi com a banda residente do programa foi dos motivos pelos quais o meu percurso correu como correu. A guitarra não era um escudo, era uma arma.

Agora se devia ter dançado, representado ou interagido mais vezes com o público? Talvez, quem sabe. Mas queria deixar algo mais pessoal em jogo.

M: Na gala final, e após a tua consagração como vencedor, apresentaste o teu primeiro single “Chama Por Mim”, escrito por Diogo Piçarra, que podemos ouvir atualmente na telenovela Coração d’Ouro. Que feedback tens recebido do público relativamente a este tema?

J: O feedback do público tem sido brutal. A canção chegou aos tops logo após o lançamento e já tocou e toca em algumas rádios. Esteve nas tabelas do iTunes e do Shazam, etc.. É um testemunho do talento do Diogo Piçarra como compositor e da empatia que o público tem com a música dele, e é muito bom ver pessoas a criar uma relação com um tema que ouviram na minha voz. Vejo pessoas a procurar a canção e ouvi-la diariamente mesmo sem me conhecerem ou o meu percurso no programa e ficarem cativadas com o que ouvem, e isso é muito especial. Sempre que a canto ao vivo a reação do público é instantânea, e é arrepiante quando oiço a plateia cantar ou sussurrar as palavras na plateia.

M: Um dos prémios como “Ídolo de Portugal” foi um contrato com a editora Universal Music Portugal. Vamos poder ouvir, em breve, os “frutos” dessa parceria?

J: Sim, não há data definitiva mas posso dizer que estou na fase de escrita do álbum de estreia. Vai tomar o seu tempo, porque além de eu estar a terminar a licenciatura, quero ser muito cuidadoso na composição e seleção dos temas.

M: O que podemos esperar do primeiro álbum do João Couto? Podes desvendar algo sobre ele?

J: Não posso desvendar muito. Posso garantir que quando chegar vai ser algo muito especial. Estou a procurar a sonoridade certa e vou ter em atenção as minhas influências. Terá uma grande sensibilidade pop, vai ser completamente em português e vai ter um som muito orgânico e uma instrumentação muito cuidada, porque apesar das grande mudanças na indústria musical e do público consumidor de música, eu sou apologista do “álbum” e por isso sinto-me na obrigação de honrar essa minha visão e trabalhar intensamente para criar os melhores 40 e tal minutos de música que conseguir produzir.

M: Os temas serão inteiramente compostos por ti?

J: Sim. Poderão aparecer temas compostos a dois eventualmente mas vou intervir sempre na letra ou música duma maneira ou outra.

M: Queres deixar algum conselho a quem, como tu, quer fazer da música a sua vida?

J: Ter a certeza absoluta de que é aquilo que querem fazer, porque quanto mais intensa for a melomania mais fácil tudo se torna. Oiçam imensa música (muita mesmo) antes de mais nada, de todos os géneros e épocas, para aprenderem o máximo possível com o leque enorme de grandes artistas que trabalham hoje ou que fizeram marcas no passado. Ouvir os clássicos é importante. Quanto maior for o vosso conhecimento musical e menos óbvio for o vosso gosto, mais primam pela diferença. Preparem-se, estudem música, aprendam instrumentos, pratiquem a voz, toquem com outras pessoas, façam bandas de garagem, gravem vídeos para o youtube, façam de tudo. E acima disso sejam profissionais e justos com quem vos rodeia, não queiram ser o centro das atenções por outro motivo que não o vosso talento e trabalho. Não sintam necessidade de superar os outros, mas sim vocês próprios.

15

Nº 3 - Abril, 2016