Inominável Nº 3 | Page 14

M: A uma determinada altura, comentaste que não sabias se terias a imagem que talvez se esperasse de um ídolo. Enquanto concorrente, sentiste que esse era um aspeto que poderia prejudicar a tua participação ou condicionar o teu percurso?

J: A minha imagem foi o meu “tendão de Aquiles” nos primeiros castings. Conhecendo o formato, calculava que ia ser um aspeto que iriam apontar mas resolvi encarar essa suposta “fraqueza” como um “elemento diferenciador”, e levei tudo com a maior das naturalidades, sem peso na consciência. Nunca considerei mudar a minha forma de ser por causa da competição porque sabia que ia ficar postiço e o público é implacável a reparar nessas coisas. Admiti-a logo desde o início. Nunca senti que me fosse prejudicar. Sabia que alguém se haveria de identificar com a minha forma de ser. Agora a questão era quantos se iriam rever na minha participação... Era arriscado, mas ainda bem que tomei esse risco.

M: Um dos momentos menos desejados no programa é aquele em que se é nomeado e está em risco de sair, o que nunca aconteceu contigo. Como é que vivias as nomeações e expulsões dos teus colegas?

J: Em primeiro lugar, tenho que salientar que nunca ter ido aos menos votados é das coisas que mais orgulho me dá. É absolutamente esmagador quando penso bem nisso. Ser nomeado era muito provável e por vezes a mínima falha podia ser fatal e reconheço que não fui de todo infalível, e devo dizer que ter chegado ao fim sem ter estado em risco de expulsão é de um orgulho indiscritível e tenho uma gratidão imensurável ao público por isso.

Mas apesar de tudo o momento das expulsões era sistematicamente o mais difícil de ultrapassar na emissão, não só pelo suspende que construíam à volta dele mas também pelo quão imprevisíveis eram os resultados. Naturalmente houve pessoas que pela amizade enorme que criei me afetava particularmente vê-las nomeadas ou expulsas, e claro, mesmo como espetador do próprio programa ficava destroçado quando assistia a uma saída mais injusta. Mas tinha que levantar a cabeça, semana após semana porque essa era a natureza da competição.

Engraçado que achava sempre que nunca me iria emocionar em momentos de expulsão mas, em mais que uma ocasião, isso aconteceu.

M: Qual foi a interpretação em que sentiste que te conseguiste entregar totalmente, e mostrar aquilo que poderíamos esperar de ti no futuro?

J: A minha última atuação, o “Something” dos The Beatles. É aquela em que cada vez que revejo me emociono sempre, não só porque a própria música em si é maravilhosa mas porque é a atuação em que vejo que estou mais feliz. É a única que quando revejo não estou o tempo todo a apontar falhas, porque foi tão emocional e significou tanto para mim que descarto isso. Cada momento dessa atuação lembra-me o porque é que eu tenho de fazer música para o resto da vida. Nada me liberta daquela maneira e me faz encarar as pessoas com aquela determinação. E sem dúvida que será na linha daquele género musical que quero construir a minha carreira.

M: Qual foi o teu melhor e o teu pior momento enquanto concorrente do Ídolos?

J: Melhor momento? É difícil porque há muitos que me são especiais. A resposta fácil seria a vitória, mas esse momento em específico foi de tal maneira surreal que é difícil descrevê-lo aqui condignamente. Mas há um momento que tenho de apontar aqui que é bastante especial: a quarta gala em que cantei o “Reader’s Digest” do Miguel Araújo. Além de ter sido dedicada aos meus pais (e lembrar-me muito vivamente da reação positiva deles no estúdio), o que já por si torna o momento memorável, acho que foi o momento-chave no meu percurso como concorrente. A partir dali ninguém que via o programa tinha dúvidas de quem eu era.

Naquela atuação deixei definitivamente claro quem eu era como concorrente, como pessoa e como músico. A partir daí notei que o público, a imprensa e a crítica já me viam doutra forma. Nunca antes tinha visto tanta gente reagir a uma atuação minha. A partir daí apercebi me da “alhada” em que me meti (risos) e tinha de pegar na oportunidade de ouro que tinha e aproveitá-la da melhor maneira, e fiz por comunicar com o público através da música.Os piores momentos não aconteceram em palco mas sim nos bastidores e foi lidar com as críticas negativas dos cibernautas. Não que não estivesse à espera delas, porque estamos todos sujeitos a isso, mas é sempre difícil absorvê-las principalmente no momento de pressão que eu estava a viver. Confortei-me no apoio de quem estava comigo desde o primeiro dia, e sem eles talvez nunca tivesse ultrapassado isso tudo.

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