Inominável Nº 1 | Page 49

há muito tempo; escusado será dizer que nunca mais se lembram de combinar nada, a não ser que passem na rua e voltem a falar no assunto, mas nem aí combinam.

Voltando ao tema principal… O Natal é uma época muito bonita, mas será para todas as pessoas? Aquelas pessoas que já não têm família acharão isto tudo assim tão bonito? E aqueles que tiveram de emigrar e estão longe da família, será assim tão bonito ver o Natal à distância através de um ecrã? Tenho quase a certeza de que não. Em relação ao último caso, acredito que a tecnologia facilite imenso e faça com que por momentos pareça que estão todos juntos, mas não é a mesma coisa. Falta o beijo suave, o abraço apertado. Sentem-se as saudades mais ainda do que no resto do ano. A família está ali toda reunida e nós sentados num sofá sozinhos com o tablet ou o smartphone à frente, a tentar participar na festa. Quando a chamada se desliga, a festa acaba muito mais rápido do que se estivéssemos presentes, fechamos os olhos e vêm as memórias dos outros Natais. De quando se era criança, adolescente e mesmo já adulto. Lembramo-nos de quem esteve presente em quase todos os Natais e hoje já não estava lá, ou estava mas de outra maneira. Lembramo-nos das perguntas feitas pelas tias quando éramos pequenos sobre os namorados e a escola. Lembramo-nos das prendas que recebemos e que demos, da mais engraçada à mais inesperada. Lembramo-nos daquele momento que ficou para a história porque o tio bebeu um bocadinho demais e ainda antes da meia-noite já dizia e fazia coisas sem nexo. Lembramo-nos das discussões que houve porque uma tia queria fazer tudo sozinha e a outra não deixava porque era muita coisa. Lembramo-nos de discussões familiares que houve e que quase iam arruinando uma noite de Natal, mas que ao fim de tantos anos percebe-se que se tratava de um pequeno pormenor e nos fazem rir. Rimo-nos sozinhos por um momento. Tantas recordações, tanto amor que sentimos. Depois abrimos os olhos e estamos sozinhos numa casa. Sem ninguém para abraçar, sem ninguém a quem agradecer por nos fazer tão feliz.

Será a época de Natal assim tão boa para estas pessoas que estão longe e desejariam tanto estar perto?

Nº 1 - Dezembro, 2015

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Crédito/fonte da foto: http://abertoatedemadrugada.com/2011/12/videochamadas-finalmente-na-ordem-do.html