A mãe estava na sala, agarrada ao seu tablet, e mal olhou para a filha quando ela entrou.
- Mãe, não encontro o Natal aqui em casa. - disse a menina - Podes ajudar-me a procurá-lo?
- Agora não posso, querida. Estou a encomendar uns doces e prendas pela internet. Não teremos trabalho com nada. Não é maravilhoso?
A Ana ficou triste. Não, não era nada maravilhoso! Ela queria fazer doces com a mãe e escolher o papel, cortar a fita-cola, fazer laços e postais de Boas Festas para enviar aos amigos. Doces encomendados e prendas que já vinham embrulhadas não tinham nada de Natal!
A Ana foi à procura do pai.
O pai estava no escritório, a falar para o ecrã do computador, enquanto agitava muito os braços, no ar.
- Pai, não encontro o Natal aqui em casa. - disse a Ana - Podes ajudar-me a procurá-lo?
O pai espreitou por cima do ecrã e disse:
- Podes esperar, querida? Agora estou a tratar de negócios.
A Ana não gostava nada da palavra “negócios”. “Negócios” era uma palavra que deixava os adultos doidos e muito parecidos com os piratas das histórias que ela gostava de ouvir. Se havia uma palavra contrária a “Natal”, era “negócios”
- Mas prometeste que fazias um boneco de neve comigo!
- Talvez mais tarde, fofinha. Talvez mais tarde. - respondeu o pai, que continuou a falar para o ecrã, como se Ana nem estivesse ali.
Cabisbaixa, ela foi à procura do irmão.
O irmão estava no quarto a jogar Playstation.
- Mano, não encontro o Natal cá em casa. Podes ajudar-me a procurá-lo?
- Agora não posso, Ana. Estou a tentar passar um nível importante! - disse ele, mordendo a língua, agarrado ao comando.
- Mas amanhã é Natal e nem temos a nossa árvore enfeitada! - reclamou a menina.
Sem lhe responder, o irmão continuou a jogar e ela saiu do quarto, sentindo-se muito zangada.
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Nº 1 - Dezembro, 2015
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