Inominável Nº 1 | Page 11

A mãe estava na sala, agarrada ao seu tablet, e mal olhou para a filha quando ela entrou.

- Mãe, não encontro o Natal aqui em casa. - disse a menina - Podes ajudar-me a procurá-lo?

- Agora não posso, querida. Estou a encomendar uns doces e prendas pela internet. Não teremos trabalho com nada. Não é maravilhoso?

A Ana ficou triste. Não, não era nada maravilhoso! Ela queria fazer doces com a mãe e escolher o papel, cortar a fita-cola, fazer laços e postais de Boas Festas para enviar aos amigos. Doces encomendados e prendas que já vinham embrulhadas não tinham nada de Natal!

A Ana foi à procura do pai.

O pai estava no escritório, a falar para o ecrã do computador, enquanto agitava muito os braços, no ar.

- Pai, não encontro o Natal aqui em casa. - disse a Ana - Podes ajudar-me a procurá-lo?

O pai espreitou por cima do ecrã e disse:

- Podes esperar, querida? Agora estou a tratar de negócios.

A Ana não gostava nada da palavra “negócios”. “Negócios” era uma palavra que deixava os adultos doidos e muito parecidos com os piratas das histórias que ela gostava de ouvir. Se havia uma palavra contrária a “Natal”, era “negócios”

- Mas prometeste que fazias um boneco de neve comigo!

- Talvez mais tarde, fofinha. Talvez mais tarde. - respondeu o pai, que continuou a falar para o ecrã, como se Ana nem estivesse ali.

Cabisbaixa, ela foi à procura do irmão.

O irmão estava no quarto a jogar Playstation.

- Mano, não encontro o Natal cá em casa. Podes ajudar-me a procurá-lo?

- Agora não posso, Ana. Estou a tentar passar um nível importante! - disse ele, mordendo a língua, agarrado ao comando.

- Mas amanhã é Natal e nem temos a nossa árvore enfeitada! - reclamou a menina.

Sem lhe responder, o irmão continuou a jogar e ela saiu do quarto, sentindo-se muito zangada.

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Nº 1 - Dezembro, 2015

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