Inominável - Ano 2 Inominável Nº9 | Page 68

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Nem sempre vou até ao fim de um livro. Assumo-o, e é sem culpas que deixo um livro de lado. Porque se a vida é curta para as obrigações que já temos, para quê criar patamares de objectivos no nosso tempo livre? Sim, tempo livre, reparem bem, livre, de liberdade. Querem ser livres nas leituras ou ficar amarrados às vossas próprias teimosias? Se calhar falta a muita gente experimentar a sensação libertadora de deixar um livro a meio, de o colocar de lado numa substituição fria por outro, sem dó nem piedade. Atrevam-se a ser implacáveis. Sabe bem.

Ir até ao fim

por Márcia Balsas

Sim, eu sei que não é fácil para muitos leitores. Conheço vários que têm por princípio terminar todos os livros começados, e não é raro o desenvolvimento de sentimentos de ódio em relação a certos autores. E digam-me, para quê? Para depois se dedicaram à vingançazinha de criar ódios de estimação, não resistindo à maledicência e espalhando farpas que fazem doer quem está à escuta, e envenenar a própria alma? Sim, que isto da má-língua não torna ninguém mais doce, antes vai recolhendo gente que se torna mais rezingona pelo caminho. Quando se chega àquele ponto da leitura em que ler mais uma página faz mais mal do que bem, é o momento de colocar em prática um dos direitos mais importantes (para mim) do leitor: O direito de não acabar um livro.

Daniel Pennac escreveu um pequeno livro que me marcou muito como leitora. Como um Romance lê-se de uma penada e tem tudo para ser o livro da vida de qualquer leitor. Além dos dez direitos inalienáveis do leitor, do qual faz parte o direito de não acabar um livro, que destaco para este texto, são referidas situações com as quais os amantes de livros se identificarão com facilidade. Em Portugal foi editado pela Asa e, infelizmente, já não é muito fácil de encontrar. Procurem-no com determinação.