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Nº 9 - Agosto 2017

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Naturalmente cumpriu-se a tradição portuguesa de ser atendida uma hora após o previsto, mas como já ia mentalizada até não foi uma espera muito difícil; naquele espaço português tive a sensação de regresso a casa: o atendimento menos cuidadoso, os sorrisos mais escassos, o programa da manhã na RTP1, sem som, na televisão da sala de espera... parece uma crítica mas não é! Todo este ambiente trouxe-me, inesperadamente, uma certa sensação de aconchego, o que me faz perceber que até as coisas menos boas parecem fazer falta quando estão bem enraízadas na nossa identidade cultural. A funcionária que nos atendeu estava no limbo entre simpática e enfadada, talvez pelo calor que se fazia sentir numa sala sem ar condicionado a funcionar, valendo-lhe uma porta aberta que dava para umas traseiras pouco atractivas. No entanto esforçou-se, e a experiência acabou por não ser muito penosa.

Acabadas as burocracias pudemos finalmente usufruir das ruas de Londres sem pressas, e desta vez com o bom tempo a nosso favor (já por lá tínhamos andado na véspera da passagem de ano). Entrei em 2017 enrolada num cobertor e emocionada com as badaladas do Big Ben, o sino da Elizabeh Tower, que sinaliza as horas no maior relógio de quatro faces do mundo. O seu eco fazia uma trovoada comovente no meu peito, o que talvez tenha sido provocado pelo antigo desejo que eu tinha de o ouvir cantar, ou talvez tenha sido porque o seu som único é provocado por uma racha causada ao ser levado pela mão do homem até à torre, trabalho que demorou trinta e quatro horas. Tendo em conta o seu peso e tamanho, não é de espantar que tenha havido incidentes no percurso. O sino é tão colossal que foi baptizado de Big Ben devido a, na altura,