Inominável Ano 2 Inominável Nº8 | Page 75

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Ignis acabou por se ajoelhar no chão, cedendo ao cansaço, e encarou-a.

- Ele apareceu na entrada. Vindo lá de baixo.

Escarlate cruzou os braços, fitando-a.

- Vocês não o mataram?

Ignis abanou a cabeça e suspirou, colocando as mãos na testa. Sentia uma dor de cabeça a formar-se. Retirou as luvas e chamas irromperam das suas mãos. Tinha frio, mas não sabia se estava a tremer por isso ou se era da adrenalina que sentia. Provavelmente ambas as coisas.

- Eu acertei-lhe no peito com o cabo da minha faca e ele desmaiou. – olhou para Escarlate – Não podíamos matá-lo. Não conseguia, Escarlate.

Escarlate acenou.

- Não podemos deixá-lo aí. Anda, vamos levá-lo para o quarto do fundo.

Ignis queria contestar; estava cansada, não sabia se tinha forças para o carregar mais, mas a culpa de tudo tinha sido sua. Quando decidira atingi-lo com o cabo da faca, naquela fracção de segundo que levara para reagir ao aparecimento do estranho na entrada, estava certa da decisão a tomar. Tinha pensado muito sobre isso antes, sempre que imaginava alguém chegando a Aperos vindo lá de baixo. Agora as certezas iam-se dissipando com a noção daquilo que as suas acções significavam para todos. E se o descobrissem ali, vivo? Estaria a colocar em perigo a vida de Escarlate e de Sora por causa da sua falta de coragem. Tinha sido treinada para isto, tinha jurado proteger Aperos de intrusos, mesmo que isso significasse matar alguém.

Escarlate olhava-a.

Levantou-se e, tal como fizera com Sora, carregaram-no para o quarto de hóspedes. Ignis nem sabia por que Escarlate tinha um quarto de hóspedes, ela nunca recebia ninguém a não ser Sora, e Sora ficava no mesmo quarto que ela. Afastou o pensamento; as molas do colchão chiaram quando o pousaram sobre a cama.

Chamas irromperam agora das mãos abertas de Escarlate em direcção à lareira. O quarto começou a aquecer de imediato. Em Aperos, por razões óbvias, não faltavam lareiras nem fogo.

Ignis deixou-se cair ali ao lado; retirou o casaco, enquanto Escarlate foi buscar a caixa de primeiros socorros.

- Ele precisa de unguento. – colocou-lhe a mão sobre a testa - Está desidratado e provavelmente tem hipotermia, para cá ter chegado sozinho já deve andar há dias perdido. De certeza que foi por isso que desmaiou quando lhe atiraste com a faca.

Nº 8 - Junho 2017