Inominável Ano 2 Inominável Nº8 | Page 69

Gonçalo Naves, vinte anos de idade, estudante de Direito, um jovem do seu tempo e do seu país. Não é mais que meia dúzia de laços de sangue e de amizade com que partilha a vida.

Apreciador da boa literatura, assim como de tudo o que seja belo. Autor de um livro, aspirante de muitos mais.

Escreve mais do que fala, escuta mais do que escreve, é simples

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esde que soube que o Gonçalo Naves tinha publicado um e-book que o quis ler. Mas adiei. Depois veio o livro físico e a vontade aumentou, que eu gosto mesmo é de livros com páginas de papel, que se moldam nas mãos e se podem cheirar. Continuei a adiar. A minha procrastinação era acompanhada

Nº 8 - Junho 2017

pelos excertos do livro partilhados nas redes sociais. O meu interesse aumentava.

Um dia, ainda eu adiava o que a partir desse dia foi inadiável, o Gonçalo convidou-me para apresentar o livro. Fiquei muito surpreendida (em choque, vá) e assustada (aterrorizada, pronto) com a ideia de falar em público. Então decidi aceitar de imediato (não faz sentido, eu sei), porque se pensasse muito acabava por dizer não. E porque, apesar do receio (terror), eu fiquei muito feliz com o convite.

Achei que leria este livro como nunca tinha lido nenhum outro, que absorveria cada página com o propósito de construir um discurso verbal sobre ele. Antes de começar pensei em como o leria sem esse compromisso. Sinceramente acho que não seria uma leitura muito diferente, pois acabei por me deixei embalar pelas palavras e, lendo e relendo passagens favoritas, não pensei muito na apresentação.

Bem-vindos a Esta Noite Branca lê-se de uma penada mas eu recomendo moderação. Recomendo que se demorem nas frases, que as leiam várias vezes antes de mudar de página, sobretudo as preferidas, aquelas que vão querer que a memória não apague, e acreditem que serão bastantes. Possivelmente ficarão tão surpreendidos, como eu, com a maturidade da escrita do Gonçalo. Num estilo desafiante, que não esmorece, a leitura é estimulada pela complexidade da escrita e pelas múltiplas possibilidades de interpretação oferecidas pelo autor. O leitor não descansa, entrega-se.

(...)

O autor escreve com uma liberdade admirável sobre a doença e sobre a morte, sem receio de se perder nesse vazio. E não se perde. Desenvolve a aprofunda. Expõe e oferece reflexões como pontas soltas que o leitor pode puxar e continuar a trabalhar, sempre a pensar.

Senti que não há temas difíceis ou proibidos para o Gonçalo. Quem escreve deste modo denso e intenso não pode parar.

excerto de um artigo de Márcia Balsas