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biblioteca junto de quem (supostamente) ama os livros e lhes dedica os seus dias? Até porque existe a possibilidade de levar livros para casa e fazer todos os testes terapêuticos que se desejar sem custos.

Parece-me uma aposta vencedora. Assim como frequentar livrarias, aquelas lojas que vendem livros (só livros) e têm senhores e senhoras chamados livreiro(a)s, que devem ser dos nossos melhores amigos e inestimáveis conselheiros. Melhor que o sofá do psicólogo será tomar assento na livraria, escolher uma pilha de livros e seleccionar romances, contos, ensaios, poesia com a ajuda desse mestre que o(a) livreiro(a) deve ser na vida de um leitor.

Quando me perco nestas reflexões acabo por me entristecer com as tentativas de fazer negócio de algo tão pessoal e fundamental ao crescimento interior de cada um. Mais do que uma posologia diária, um livro é uma arma de enriquecimento individual com um poder único. Pensará por si um leitor que lê o que lhe impingem com a desculpa da cura? Ou será mais forte e imune aquele que procura o seu caminho numa perspectiva de tentativa e erro? Aquele que tanto adora como odeia um livro, que tanto o lê de modo compulsivo como tem ganas de o atirar janela fora. Aquele que pensa e defende convicções. Aquele que segue o seu caminho, mesmo quando o desvio do rebanho é inevitável.

Todos ganhamos em ser, pelo menos uma vez, a ovelha negra de um grupo. Significa que temos a capacidade de fazer escolhas, de dizer não, neste caso específico temos a liberdade de escolher o que nos alimenta a alma. Dessa forma acredito na cura pelos livros. De outro modo será apenas comprar um bilhete para a viagem que toda a gente faz. Eu por mim gosto de descobrir novos destinos.

Foto: Gil Cardoso

Nº 8 - Junho 2017