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A Terapia dos Livros

Já li sobre consultas online e também sobre consultórios fora do espaço virtual, o que não deixa de me surpreender numa época em que todos nos afastamos fisicamente, tendendo a preferir a comodidade das ligações no ciberespaço. Folheei um livro que é um verdadeiro compêndio de mezinhas, substituindo a camomila, a tília e demais plantas ou substâncias por géneros literários, autores ou mesmo títulos concretos, recomendados para distintas maleitas.

Aprecio todas as formas de promover a leitura e sei que os livros que nos preenchem são inevitavelmente uma forma de bem-estar, mas poderá alguém que não me conhece opinar sobre o livro que me fará recuperar de uma constipação? Não me parece. Até porque, por muito que um livro afaste indisposições, não lhe reconheço capacidade de atenuar febre e pingo do nariz. Ou seja, reconheço o potencial da literatura em processos de atenuação de mal-estar mas, como com qualquer banha da cobra, há que estar de pé atrás e não se deixar levar por milagres. Inevitavelmente, acho piada a esse tipo de compêndios (como não gostar de uma medicina dos livros ou dos médicos que prescrevem literatura?), mas arrisco a manter o meu próprio receituário.

Possivelmente estas “consultas” serão proveitosas para quem se inicia na leitura e terá necessidade de orientação. Mas não poderão as bibliotecas ter esse papel? Não será mais inteligente (e mais barato) procurar essa orientação na

Recentemente têm surgido alguns “consultórios literários” e também livros que difundem a ideia de terapêutica através da leitura. Pessoalmente este conceito não me oferece nada de novo, pois eu já me “automedico” com livros há muitos anos. Sei por experiência o efeito que um livro que me agrada tem no meu bem-estar mas, inevitavelmente, e por ter a leitura como uma actividade tão pessoal, hesito em acreditar sem reservas nos “médicos dos livros”.

por Márcia Balsas