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Nº 7 - Abril 2017

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Eutanásia

por Maggie

Antes de mais, devo explicar o porquê de escolher este tema. Sim, é muito falado atualmente, mas não foi por isso que eu o escolhi. Eu escolhi a eutanásia como tema para este texto porque o meu professor de filosofia adora usar isto como exemplo de algo imoral, pouco ético, etc. Ora, a minha opinião é exatamente oposta à dele, e por isso durante as aulas, enquanto ele fala disto, eu estou no meu lugar, caladinha, a arranjar argumentos meus para destruir os "argumentos" dele (para ser honesta, não precisei de me esforçar muito, bastou-me fazer algo que ele não fez: pensar com lógica). Aqui vai.

Uma das coisas que o meu professor mais repete sobre a eutanásia é uma comparação que, devo dizer, é a coisa mais estúpida que eu já ouvi na minha vida. Segundo a lógica dele, a eutanásia é o mesmo que eu ver alguém prestes a saltar de uma ponte e ir lá dar-lhe um empurrãozinho. Vamos pensar um bocado, sim? Se eu me quero atirar de uma ponte, a única ajuda de que eu preciso é a da gravidade. Não preciso de médicos nem hospitais. Então porque será que a eutanásia é feita por um médico? Ah, já sei! E foi preciso o quê? Cinco minutos? Se calhar é porque as pessoas que querem a eutanásia vão morrer de qualquer maneira, e querem uma morte sem dor. E, pessoalmente, acho que atirar-me de uma ponte deve ser um bocadinho doloroso. Mas não sei, nunca experimentei.

Isto leva-nos ao próximo argumento, que deve ser tão ou mais estúpido do que o da ponte: os médicos. Segundo o meu professor, não faz sentido matar uma pessoa (que iria morrer de qualquer maneira) porque o trabalho dos médicos é curá-la. "Sim, claro, senhor professor, deixe-me só curar este cancro de fase terminal. Como é que nós, médicos, que estivemos a estudar estas doenças durante anos, não pensámos nisto? Passou-nos completamente ao lado, tentar curar esta pessoa. Obrigada pela ideia inovadora, está aqui o Nobel da medicina". Era o que eu diria se fosse médica e alguém viesse ter comigo a dizer-me para curar uma doença incurável.

O que falta ainda a muita gente perceber é que a legalização da eutanásia só vai afetar as pessoas que têm doenças graves, sem cura, muitas vezes em fase terminal. Essas pessoas querem ter a opção de uma morte limpa, indolor, e digna, coisa que não vão ter se morrerem pela doença. Quando fazemos a eutanásia a um cão ou gato, não há discussão, porque todos sabemos que estamos a salvá-los de sofrer mais. Então porque é que a um humano é diferente? O motivo é exatamente o mesmo, e nem sequer é outra pessoa a decidir, ao contrário dos animais. A legalização da eutanásia não significa que os médicos vão começar a andar por aí a matar pessoas só porque sim. Não obriga as pessoas com essas doenças a fazê-lo. É simplesmente uma opção. Se eu tivesse uma doença que me ia matar, eu gostaria de ter a opção da eutanásia. Gostaria de não ser obrigada a morrer em sofrimento, mas sim nos meus próprios termos. Porque é isso que é a legalização da eutanásia: é dar a liberdade às pessoas de escolher o que elas querem.