Inominável Ano 2 Inominável Nº7 | Page 46

ciganos. Ah, e também têm mais coisas interessantes para além de histórias de vampiros! Mas brincam com isso, sentido de humor não falta na nossa equipa, e muito menos formação: um deles é engenheiro informático, outro quase completou o curso de enfermagem (o que é útil quando damos um jeito às costas ou colamos acidentalmente os dedos com cola cirúrgica), e um outro, entre vários talentos artísticos, tira fotografias com qualidade e criatividade, tendo sido o fotógrafo oficial da nossa original troca de votos feita em Glastonbury, localidade sobre a qual já aqui falei também.

Temos professoras a trabalhar connosco, e a nossa team leader pinta quadros (retratos a óleo!) e chega a receber encomendas, pois a qualidade é absolutamente inegável. Temos também colegas da Polónia, que são igualmente expressivos apesar de não pertencerem ao grupo latino, embora talvez um pouco mais fechados, quem sabe por a língua inglesa ser mais difícil para eles (meu Deus, tentar repetir palavras em polaco dá-me a sensação de que falo chinês ao mesmo tempo que faço um esforço para não me cuspir e aos que me rodeiam!). Mas comunicamos todos perfeitamente, criando até frases completas com um mix de palavras portuguesas, polacas, romenas e espanholas.

Um dos meus colegas polacos é formado em ópera, canta maravilhosamente, e nas vésperas de Natal chegou a fazer-se um momento arrepiante de silêncio para o ouvir cantar “Avé Maria”…

Este colega visitou a nossa Lisboa já este ano, diz que é mágica, e é agora um fã incondicional do fado, adora Marisa e Ana Moura e está a descobrir a Carminho…

Delicioso ouvir um colega polaco a relatar os sítios onde esteve e que nos são tão familiares! Claro que falou da experiência pastéis de Belém e bolas de Berlim, e posso jurar que nesse dia, ao ouvir a extasiada descrição, eu podia sentir o cheiro deles no nosso ambiente esterilizado…

Os colegas da Lituânia, Eslovénia e Rússia têm uma outra postura, mais reservada e com mais tento na língua, como se diz. Com o tempo reconhece-se a nacionalidade, pelo tipo físico e maneira de estar. Ficamos a par de tradições, sítios que desconhecíamos e nem fazíamos ideia de que existiam, novas receitas e produtos de culinária (já sou cliente da loja polaca, com cartão cliente e tudo), rituais de beleza e formas de pensar em assuntos específicos. Coisas que para nós são normais, para alguém de outro país podem ser bizarras ou até ofensivas, embora no fundo todos tenhamos o mesmo tipo de sonhos e receios.

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